"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sobre a mudança, o renascer das coisas e aquilo que não pode morrer nunca



Conto adaptado do livro O Jardineiro que Tinha Fé, de Clarissa Pinkola Estés.

"Vou lhes contar uma história sobre o tempo da paz e o tempo das cinzas, sobre como os jovens e os velhos aprendem sobre aquilo que não pode morrer nunca. Era uma vez, há muito, muito tempo, um pinheirinho que, embora pequeno em estatura, era imenso em espírito. Ele vivia nas profundezas de uma floresta e ouvia a história de que as
árvores cortadas de tempos em tempos naquele lugar eram levadas para um lugar maravilhoso, chamado casa. Ali, uma família inteira de pessoas se reunia ao seu redor e enfeitavam a árvore com belos objetos e depois cantavam e se alegravam em uma data muito especial para os humanos.

Com o passar do tempo, muitas árvores haviam sido retiradas da floresta e o pinheirinho teve bastante espaço para receber a luz do sol e assim ele foi crescendo, crescendo, até ficar muito mais alto do que antes. No fim do ano, chegaram os cavalos puxando um trenó com o pai, a mãe e crianças risonhas. 

Os cavalos empertigados passaram direto pelo pinheirinho. "Espere", gritou uma das crianças, "aquele ali atrás, aquele ali sozinho. Ah, olhem como os galhos são cheios de vida" E o pinheirinho começou a tremer de esperança. E o pai apanhou seu machado no trenó. Com o primeiro golpe, o pinheiro sentiu a maior dor de toda a sua vida e desmaiou.
 
Muito mais tarde, o pinheiro voltou a si, diante de um chalé coberto de neve, onde moravam um senhor e uma senhora bem idosos. Mergulharam o tronco cortado da árvore num balde de água fresca que aliviou grande parte da sua dor. E quando apagaram os lampiões, o pinheiro, que amava a profunda escuridão da floresta, começou a amar também a escuridão daquela casa.
 
Bem cedo na manhã do dia seguinte, as pessoas começaram a enfeitar a árvore com enfeites coloridos. As crianças gritavam e corriam ao redor, enquanto outros tocavam e cantavam. 

Os dias se passaram e uma a uma as pessoas foram deixando a casa. O pai, então, entrou com passos pesados e tirou todos os enfeites do pinheiro, guardando-os em caixas com camadas de enchimento de algodão. Depois, arrastou de maneira descuidada a árvore pela escada de madeira acima e a jogou dentro de um sótão escuro. E ali o pinheiro ficou muitos dias e muitas noites.
 
Certa noite, porém, com o canto do olho, o pinheiro viu quatro pontos vermelhos reluzentes. Eram os olhos de dois ratinhos minúsculos que ocupavam as paredes do sótão. "Ah, minhas senhoras, sabem-me dizer quando virão me buscar, quando voltarei para a sala especial?” "Querida árvore, sei que você sentia ter nascido para essa vida, tanto que não desejava que ela mudasse. Essa época já terminou. 

Mas agora começa um tempo diferente. Uma nova vida, um tipo de vida diferente sempre se segue à antiga.” E os dois camundongos fizeram companhia à árvore a noite inteira. Contaram histórias e cantaram todas as músicas que conheciam.
 
Pela manhã, a porta do sótão foi aberta com violência, e o pai, usando um gorro de lã e um sobretudo, agarrou o pinheiro e o arrastou pela longa escada abaixo, pela porta, até o quintal. Ali. Deitou o pinheiro num toco velho e ergueu muito alto um machado enorme, cortando a árvore em pequenos pedaços.
Muito tempo depois, o pinheiro acordou novamente no canto da sala especial. Nas poltronas diante da lareira, viu o velho casal que conhecera quando chegou à casa, vindo da floresta. Eram eles que haviam banhado seu ferimento com água fresca.

Ali estavam eles, bem juntinhos diante do fogo. Apesar do seu estado, o pinheiro sorriu com o amor que via entre os dois. O velho levantou-se e jogou um dos braços do pinheiro no fogo.
Noite após noite, o pinheiro permitia essa entrega. Era tão completa sua alegria por ser útil e ter vida desse modo que ele queimou e queimou até não restar mais nada,  a não ser as cinzas que jaziam no fundo da lareira. 

Então, o casal de velhos, com suas mãos velhas e sábias, varreu delicadamente cada fragmento de cinzas da lareira. Puseram as cinzas num saco macio e muito usado e o guardaram até a chegada da primavera, onde as jogariam no campo a ser semeado.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Chuvas de Natal


Existe um estado de espírito natalino no clima da cidade onde eu moro. E ele apresenta-se em formato de uma chuva intensa e de uma persistência irritante.

Mas a irritação, diriam os budistas, não está na chuva. Está em minha alma consumidora, travada de sair de casa levando filho à reboque e enfrentando lojas cheias.

Então, resolvi respirar e mudar o jogo. Hoje não vou às compras de Natal. Hoje não vou se quer comprar uma maçã para ser deliciada ao longo da semana. Hoje vou ler mensagens de amigos no meu e-mail. Aquelas que ficam na fila de espera porque e-mail de trabalho é sempre mais urgente, porém não o mais importante.

Hoje vi desenhos na TV com meu filho. E vou fazer bobagens que ele gosta para o almoço.


Com a alma menos agitada dos afazeres que vem de fora, vou tentar mais uma vez aprender a iniciar o tricô. Tricô é bom para acalmar as almas. Tricô e chá de capim-cidreira.

E, sem pressa, vou observar a chuva. O barulho que ela faz ao molhar a clarabóia da minha casa, o peso das gostas nas folhas das árvores do quintal e os respingos nas janelas.

Paulo de Tarso falava que para combater o bom combate, é preciso aprender a observar os sinais. Paulo Coelho resgatou este ensinamento em seus livros. A chuva que passa o Natal em minha cidade é um presente divino soprando em nossos corações: “Aonde você vai com tanta pressa? Aonde você vai?”

Esta talvez seja a pergunta mais difícil para um ser humano responder. Tenho duas gatas e elas, aparentemente não têm estas perguntas existencialistas. Elas apenas vão. E apenas voltam.

Já montei minha árvore e, este ano, colocamos alguns instrumentos musicais próximos a ela. Sentiu vontade de tocar, toque. A música também acalma almas.

Não preciso de muito mais do que a chuva caindo lá fora e um lar quentinho. Há sim, um bom blog para postar alguns pensamentos e amigos que eu possa receber para o jantar.