Há muitos anos um grupo de moças resolveu procurar um cigano que viajava pela região e que há tempos fazia parada em sua cidade. Na mão lida de uma das meninas, a revelação de que muitas viagens ainda seriam feitas. A moça, de origem humilde, fez ares de cética. E a turma, como era de se esperar, voltou para casa naquele dia sonhando com o futuro revelado pelo enigmático vidente.
Algum tempo depois, a moça recebeu um convite para morar em uma cidade maior. Era o início de que a profecia seria cumprida. Um dia, encontrou-se a jovem com uma mulher mais madura que lhe revelou um amor proibido. Ela havia se apaixonado por um cigano e sua família coibiu o namoro. Desde então, a mulher decidiu-se a não se casar.
A moça ouviu a história e perguntou: “Você sabe por onde ele anda?” “Nunca mais soube dele”. E a menina se calou. Não disse nada aquela mulher. Não disse que o cigano que morava agora em sua cidade era o mesmo cigano por quem ela era apaixonada. Não disse que ele vivia aparentemente só. Não disse uma palavra.
Terá sido sábia a menina por não querer intervir no destino dessas almas? Teria mudado alguma coisa na vida destes dois apaixonados se ela revelasse o seu segredo?
O certo é que a profecia se cumpriu. Minha mãe até hoje cumpre a sina desvelada pelo cigano de ser uma eterna viajante, descobridora de novos caminhos e novas histórias. Mantém a mesma discrição de não comentar o que escuta – sabedoria de quem viaja e conhece muito da vida. Cresci no meio dessas e outras memórias e, por vezes, me pego pensando como poderia ter sido mágico (ou não) o reencontros desses amantes.
Destruição
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
Carlos Drumond de Andrade
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
Carlos Drumond de Andrade
Amei, querida! Amei!!!
ResponderExcluirAmei, querida! História de apaixonados, ciganos misteriosos... Amei!
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