"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Polianices


internet mapping 

O grande escritor James Joyce escreveu um livro muito interessante chamado Dublinenses, onde ele retrata a vida social em sua cidade natal. O livro de Joyce foi feito em uma época em que as diferentes artes buscavam questionar o comportamento social moldado nas aparências. Podemos citar muitas outras obras que perseguiram este mesmo tema, como todos os filmes de Buñel, por exemplo.

Refletindo sobre alguns acontecimentos recentes na minha vida, fiquei pensando na literatura atual. Hoje questionamos a nós mesmos. Não temos mais medo de nos expormos ao ridículo. Como diria Drumond, virou moda ser gauche na vida. E nos tempos de reality show, quanto mais expostos, melhor.

Seja no twitter ou no facebook ou em qualquer outra mídia social, o bacana agora é, a qualquer momento, deixar um recado aos “amigos”: Ei, eu estou vivo, estou por aqui e hoje me aconteceu isso e aquilo.

E todos querem ser engraçadinhos e arrancar um curtir ou um compartilhar, um “retuitar”. Ou seja, queremos saber que fomos lidos e repassados à diante.

Repassados à diante. Talvez para a eternidade. Um amigo meu faleceu no ano passado e os comentários dele no FB continuam vivos por aí de micro em micro. É, sem dúvida nenhuma a relação espaço/tempo nunca mais será a mesma.

Falar no FB é como passear por uma rua movimentada de nossa cidade, ou ir aquele point da moda em que com certeza você vai encontrar pessoas conhecidas. E, como na vida real não virtual, há os que falam mais, os que falam menos e os que apenas observam.

O mundo “retuitado” mudou. E, com ele, as relações de amizades e de trabalho. Pessoas que nem poderiam sonhar que eu mantenho este blog são avisados da sua existência via meu FB. Podem nunca entrar aqui, podem vir, ler uma vez e também não voltarem. Mas com certeza têm a chance de saber mais sobre mim do que em um contato não virtual.

Eu posso colocar meus filtros e deixar passar somente o que gostaria que vissem em mim (será?), mas o fato é que esta exposição me torna mais humana e mais igual, nem que seja no imaginário de quem me lê.

Podemos ser apenas um jogo de palavras bonitas (mesmo quando estamos tecendo comentários raivosos). Podemos estar jogando o jogo do contente, pintando um mundo cor de rosa. Mas, então, não estamos muito diferentes da sociedade retratada por Joyce em Dublin. Embora com uma roupagem internáutica, ainda arrastamos nossas longas saias pelos bondes e curvamos nossos chapéus aos poderosos.

Quebrar a casca do ovo, modificar nossa maneira de agir e de interagir com o outro, são desafios constantes para a humanidade. Talvez por tocar profundamente na ferida, Dublinenses levou tanto tempo para ser aceito por uma editora e ainda mais tempo para ser aceito por seus leitores. Talvez por isso Joyce continue tão atual.

22 comentários:

  1. Oi, Malu!
    Por trás desse texto bem escrito, está a observação deste cotidiano que eu tenho considerado um tanto quanto expositivo e sem razão, pois não sei pra que uma pessoa vai a um site desses somente para dizer: "Ai, hoje estou morta, trabalhei tanto e amanhã vai ser pior ainda!" ou qualquer outra abobrinha que não tem sentido.
    Eu acho que estes sites são excelentes para quem está promovendo algo, tentanto vender algo ou para a galerinha jovem que marca tudo por ali, não o entendo para pessoa maduras e sérias.
    beijos cariocas

    ResponderExcluir
  2. Oi Malu,

    A Jussara, do Palavras vagabundas, citou outro dia em um contexto diferente as mazelas da nossa educação cristã.
    Ela ainda nos tolhe e nos faz mantermos aparencias, nos mantermos mais recatados.
    Talvez por isso Joyce continue tão atual. Os seus contos retratam a sociedade e suas relações cheia de regras e nosmas, àquela epoca inquebrantaveis. Estamos vivendo agora a sociedade do minuto, a cultura do fast food. Sinto que estas midias instantaneas levam a situações que não provocam reflexão, fatos são passados como verdade absoluta, e a gente sabe que as coisas não são assim. Como voce citou no titulo, posicionamentos pollyanescos são colocados a nossa frente, num mundo lindo de arco iris. A vida real não é assim.Eu ainda me mantenho apenas nos blogs (embora tenha as outras tambem) onde a interação é mais realista, as opiniões são colocadas de forma mais coerentes, as macaras caem co pouco tempo de convivencia. E dificil mante-las se voce navega por outros blogs, de assuntos variados e observa os comentarios das pessoas que convivem com voce.
    Essas novas midias são fantasticas, espeo que quando o modismo passar elas se restrinjam a sua real importancia.

    bjos

    ResponderExcluir
  3. Pois é Beth, a questão é, qual o uso que daremos a essas novas tecnologias. E como podemos avançar enquanto humanidade sem as máscaras a que nos submetemos. Será isso possível?

    ResponderExcluir
  4. Lufe, vc tocou em um ponto importante. Mas a questão não é só o quanto carregamos de ancestralidade de culpas cristãs, mas o quanto carregamos de guerras e lutas pelo poder. Vale mais estar em evidência, seja como for e a que custo for.

    A mudança com uso das novas tecnologias já está acontecendo. E vamos adaptando antigos comportamentos sociais a este novo modelo de comunicação.

    ResponderExcluir
  5. Lufe, vc tocou em um ponto importante. Mas a questão não é só o quanto carregamos de ancestralidade de culpas cristãs, mas o quanto carregamos de guerras e lutas pelo poder. Vale mais estar em evidência, seja como for e a que custo for.

    A mudança com uso das novas tecnologias já está acontecendo. E vamos adaptando antigos comportamentos sociais a este novo modelo de comunicação.

    ResponderExcluir
  6. Oi Alexandre,

    As midias sociais mudam com tanta frequencia que assuntos como esses ainda não foram bem definidos nem por quem faz as mídias, nem por nós que as alimentamos.

    São temas que ainda necessitam de debate, não é mesmo?
    De qualquer forma, é estranho e, por vezes, doloroso aos parentes. Para outros, no entanto, pode ser reconfortante pensar que uma pessoa ainda existe nesta espécie de "mundo paralelo".

    ResponderExcluir
  7. Malu
    Aplaudo de pé cadapalavra do seu texto. E ao ler fez-me sentir bem comigo própria, porque eu sempre fui e quero continuar a ser eu própria e não para agradar aos outros, embora quando ando triste eu tente colocar uma mascara, mas não dá, sou muito transparente quem me conhece sabe que não estou bem. Mas eu prefiro ser eu e não viver uma vida de mentira, doia a quem doer.
    Beijo.

    Meus pêsamos ao nosso amigo Alexandre pela perda de seu tio.
    Abraço alexandre

    ResponderExcluir
  8. Lindo demais esse texto,belas reflexões:"Quebrar a casca do ovo, modificar nossa maneira de agir e de interagir com o outro, são desafios constantes para a humanidade"...


    Um beijo e aquele lugar no TAMAR é lindo e vale a pena> Eu estive lá com Neno ,no da Praia do Forte e esse que comentaste foi em Natal ou F.Noronha...Vale mesmo!beijos,chica

    ResponderExcluir
  9. "Podem nunca entrar aqui, podem vir, ler uma vez e também não voltarem."
    Ou podem vir, ler e voltarem, sempre que um texto desse tipo for postado...
    Abraços!

    ResponderExcluir
  10. Obrigada, Farley. Confesso que ganhei o dia com seu comentário!

    Abs,

    ResponderExcluir
  11. Olá Alma Gémea,

    Parece um texto gémeo dum meu que eu ainda não escrevi mas que parece escrito meu. Quase igual. Apenas um apontamento diferente quase quase no final... Quando diz "Quebrar a casca do ovo, modificar nossa maneira de agir e de interagir com o outro, são desafios constantes para a humanidade" Eu diria, tarefa bem difícil pois a casca do ovo virou armadura. Não é por muito se falar e muitos aparecerem a escutar, que se incrementou o dizer. Aumentou a solidão no meio da multidão. E pior, parece mais que não...

    Beijo

    ResponderExcluir
  12. Uma análise perfeito dos tempos atuais . acho que um pouco de nós fica na pressa do dia dia ,na urgencia de se fazer notar...é tudo tão rápido que chego a temer que o amor se esfrie.

    Um beijo , Malu !
    Seu texto é ótimo !

    ResponderExcluir
  13. Acho que esse comportamento de exibição nas redes sociais fogem um tanto do controle. Muita gente fica obcecada por mostrar a cada meia hora o quanto está feliz, o quanto a vida dela é interessante e o quanto ela descobre vídeos e textos legais. Vira uma espécie de competição que me dá uma certa agonia... rs

    Mesmo assim tenho lá meu FB e Twitter onde coloco algumas coisinhas e leio outras tantas dos amigos virtuais. Mas confesso que é nos blogs que me sinto mais inteira.

    Beijocas

    ResponderExcluir
  14. As postagens,
    os comentários,
    serão nosso legado.

    ResponderExcluir
  15. Tudo que é novo precisa de um tempo de adaptação.
    Assim acontece no Universo virtual.
    Beijos.
    Bom fim de semana.

    ResponderExcluir
  16. Malu,

    Quero agradecer tua visita na Comemoração dos 2 anos do PALAVRA DE MULHER. Admiro seu trabalho e fico contente pelo reconhecimento. Pode postar minha poesia. Que minha poesia possa ser um veículo para sensibilizar o outro quanto a violência em relação a mulher.

    Quando o ABSINTO fizer aniversário me convida, ok?

    Beijos com carinho,

    Anna Amorim

    ResponderExcluir
  17. Ei Anna, obrigada! Há fui checar. O aniversário do Absinto será dia 8 de outubro. Dois anos da fada verde rss.

    Bjs,

    ResponderExcluir
  18. Te convido esse espaço, venhaaaaa!
    http://abordagenseimpressoes.tumblr.com
    Se torna mais um a acompanhar.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  19. Os dias de hoje...
    Do rápido. Do igual... Da massa. Da superficialidade. Da carência.

    Adorei o texto.
    Aliás, amei o blog.

    Voltarei.

    Beijos grandes!
    Milla.

    ResponderExcluir
  20. Malu, posso, e com certeza estou, completamente defasada mas tenho horror a esse excesso de exposição, me basta o blog onde falo do que me apetece e encontro amigos que partilham a mesma paixão!
    Ao que me parece é que ninguém vive, só aparenta em rede social, por que se você está vivendo não escreve o dia todo no twiter, facebook e etc. Prefiro viver!
    bjs
    Jussara

    ResponderExcluir
  21. Eu cansei de tanta exposicao. Mas, por outro lado, passo a crer que, nem n ao se expoe, nao é notado.

    Mas, peraí...desde quando SER NOTADO É SER FELIZ?

    Eu, hoje, daria tudo mesmo é para, de enxada nas maos, cortar cana. ah, sim..quando eu vivi isso, eu era feliz e nao sabia.
    ando enfadada de tanta conevrsa, trolóló e pouca acao...

    ResponderExcluir
  22. Malu,
    Em suas polianices, percebi que so mesma matuta do mato. Não gosto de rede sociais, achei FB muito complicado e não gosto da exposição tão em voga.
    Beijos!!!!

    ResponderExcluir