Um ano sem escrever neste blog e
quem diria que num dia frio, propício à hibernação, é que justamente sairia da
minha. Bom, escrever é um ato de alma, e por vezes simplesmente não querer
escrever é um ato de se reconhecer ou de não querer se conhecer. Um voto de silêncio,
imersa em outros pensamentos, em outras experiências. E eis que a vontade de
compartilhar renasce, em uma primavera fora de cronos, em plena sensação de 2
graus negativos, muito para um país tropical como o nosso.
Na placenta deste planeta azulzinho andei descobrindo coisas
interessantes. Como este chá chinês (tudo é chinês hoje em dia), o Flowering Teas.
No início da primavera, no
sudeste da China, mulheres acordam antes do amanhecer para colherem pequenas
flores, ainda tenras, cobertas de orvalho. Depois, são ressecadas e envoltas em
folhas de chá verde ou de chá branco, também secas. Os bulbos são amarrados com
uma fina linha de algodão. Essas trabalhadoras do campo nem sequer podem comer
alimentos com cheiro forte, como cebola e alho, que possam alterar os aromas da
planta, que absorve facilmente odores.
Curiosamente encontrei esta iguaria em uma casa de chocolates em Gramado, Rio Grande do Sul. Mais do que experimentar a novidade exótica, me desperta o encantamento, a delicadeza, a feminilidade e efemeridade de todo este processo.
O tecer, o cuidar, o maternar.
Meses de espera, horas de trabalho delicado para segundos de beleza.
Quando tinha meus 16 anos, fui
assistir a uma palestra de um professor em um encontro nacional de estudantes
de Biologia. Ele estudava a biologia humana. Entre os seus slides (era isso que
usava na época), o professor mostrou uma tribo indígena que levava meses
plantando, colhendo, amassando e secando mandioca para seu consumo em uma
espécie de pasta. Depois, mostrou um grupo de macacos-japoneses ou macacos da
neve, que em um inverno rigoroso apenas lavam sua comida em água corrente e se
alimentavam.
A pergunta que o professor
deixava no ar aos futuros biólogos era: quem aproveitava melhor o seu tempo? Os
macacos-japoneses nas fontes de água quente ou a tribo indígena com preparo
alimentar mais elaborado?
Sai de lá sem uma resposta e hoje
quando me deparo com delicadezas como as flowering teas fico a pensar que nos
detalhes, no fazer, consiste a beleza humana. Viver vivendo. Há horas de
apreciar e há horas de produzir. A medida de cada um é o segredo mais bem
guardado. O quanto de tempero devemos colocar em nossas vidas? Ou quantas doses
de absinto devemos nos permitir?
Hoje acordei com vontade
elaborada. Preparei um chá e ouvi boa música. Deixo aqui para vocês um pouco
dessa minha experiência. Espero que gostem.
Malu bom vc de volta. E nos traz esse texto e esse vídeo tão delicado, combinou com esse dia de chuva aqui.abraços
ResponderExcluirObrigada querido amigo. Também estou contente. Uma amiga acaba de comentar comigo que hoje é dia do escritor. Então, feliz dia para você!
ExcluirMalu bem vinda, já tinha saudades, excelente texto e video, gostei imenso.
ResponderExcluirbeijinho e uma flor
Obrigada querida. Bom te reencontrar.
ExcluirTudo tem seu tempo, amigo Alexandre.
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