Menina de sorriso largo que só quem já venceu muitos obstáculos nesta vida sabe que não vale a pena ficar triste por mais do que alguns instantes. O suficiente para lubrificar a visão e traçar nova rota de existência.
Estávamos todos reunidos na beirada de um deck em uma pequena praia no litoral de Paraty. Era noite e a conversa girava em torno de amores desfeitos, realizações da vida e, certamente, do encantamento de estarmos em um lugar tão mágico, com estrelas em nossas cabeças e o mar aos nossos pés. Além da nossa voz, apenas o burburinho gostoso do oceano.
“Na sua cidade tem rio?”, alguém me perguntou. “Sim, tem um rio que corta toda a cidade”. Passaram-se alguns instantes para Rita, acredito, tentar formar em sua cabeça a geografia de um rio cortando uma cidade.
Após um breve silêncio, ela me disse: “Desculpe eu perguntar, mas o rio que você fala, de um lado você consegue enxergar a margem do outro lado? ” Sim, claro que sim ”, respondi. “Então, você não conhece um rio. Rio, na minha terra, é aquele que você pode levar até dias para alcançar a outra margem”.
Rita falou com conhecimento de causa. Não era uma empáfia, era a verdade. O parâmetro de rio para ela era a de uma água sem fim.
Foi a minha vez de ficar criando imagens de um rio sem margem. Deveria ser grande, deveria ser sublime, deveria ser sagrado.
Em instantes o rio da minha cidade ficou pequeno, bem pequeno. É um rio poluído, é claro. E pensei no dia em que chegarei a ouvir a pergunta: " Na sua cidade tem água?"
Todas as fotos publicadas na National Geografic de crianças africanas que levam uma vida sub-humana pela falta de água me vieram à cabeça, bem como me saltou à lembrança a trajetória dos personagens de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Baleia era o nome da cachorra da família de retirantes no sertão nordestino. Aos filhos, nem certidão, nem nomes, apenas filho mais velho e filho mais novo. Ironias de poeta para retratar um mundo de desesperança.
E depois de toda aquela secura, choveu em mim. Todas as chuvas de verão que eu havia saboreado em minha vida, todos os banhos de rio com margens, todos os mergulhos no mar.
Chorei toda aquela noite e decidi chorar por todo um ano para que nascessem na África e em terras brasileiras, começando bem no norte de Minas, rios caudalosos.
Faria, então, um imenso barco de papel jornal, estampado com notícias sobre políticas e corrupções, e navegaria com os filhos mais novos e os filhos mais velhos deste planeta azul, em busca de uma margem do outro lado, que nunca se alcançasse, visto a largura de nossas esperanças.
Que lindooooo!!!!!!!
ResponderExcluirComo o Alexandre, também viajei nas palavras...
Deu pra sentir tudo o que você falou, o rio enorme, o rio poluído, as vidas tão secas, seu choro formando um rio caudaloso, da largura de nossas esperanças...
Parabéns Malu!!!
Maravilhosa contribuição!!
Bravo, Bravíssimo!!!
Beijão
Muito bom Malu.
ResponderExcluirTexto lindo, transmitindo sofrimento e esperança.
È assim o mundo, uns com rios que não se enchergam a outra margem, outros vivem na areia do que foi um leito de um rio.
Parabens pelo cuidado com o texto, na escolha das fotos, pela participação no evento.
bjo
Oi Malu...
ResponderExcluirCheguei tarde pra dar meu pitaco e só posso concordar com tudo o que foi dito aí em cima.
Lindíssimo texto.
Bjos...
Malu, que nossas esperanças realmente sejam infindáveis como as margens e as águas da terra de Rita.
ResponderExcluirOi Alexandre, a sua postagem também ficou linda. Adorei conhecer o Rio Oto e suas carpas famintas.
ResponderExcluirBjs
Regina, que bom que consegui passar este sentimento para você. Obrigada por comentar. O feedback é importante, você sabe.
ResponderExcluirBjs
Oi Lufe, obrigada pelo comentário. E que o mundo possa ter mais rios largos do que ricos secos. Como o exemplo do Alexandre lá no Japão com a despoluição do rio Ota.
ResponderExcluirComo disse o Ale em sua postagem, apenas 12% dos rios japoneses ainda estão poluídos. No Brasil esta matemática chega a 70%.
Ainda temos uma longa caminhada.
Isis, pitaco dado! Nunca é tarde para receber um afago. Valeu !!
ResponderExcluirQuerida Mara que deixou de ser anônima e aprendeu a postar com a conta do GOOGLE. Oba!!
ResponderExcluirAmiga, de coração, se a humanidade tiver metade da sua bondade e de sua força, então ainda veremos esse planeta bem melhor do que ele é hoje.
Obriga pela sua amizade e obrigada por estar em minha vida.
Beijo Grande !!
Malu,
ResponderExcluirChoro contigo , aqui , agora ...
Que texto lindo , emocionante .
Imagens , sua narrativa , sem comentários.
Só emoção mesmo.
BjO e um Final de Domingo Sereno.
"Faria, então, um imenso barco de papel jornal, estampado com notícias sobre políticas e corrupções, e navegaria com os filhos mais novos e os filhos mais velhos deste planeta azul, em busca de uma margem do outro lado, que nunca se alcançasse, visto a largura de nossas esperanças."
ResponderExcluirOi, Malu... NOS SOMOS MESMO A CURA!
Nem que seja de forma lúdica, as atitudes do bem sempre mostram o que somos!
Parabéns pelo lindo post!
Também estarei sempre por aqui.
Grande beijo
Esse Rio é realmente um sonho!
ResponderExcluirO Meu Rio (de Janeiro)vive às margens da lei, da boa convivência, da seriedade dos políticos e da dignidade de seus cidadãos., que a cada dia se perdem mais.
Bjs.
Malu, fiquei emocionada ao ler este post, o primeiro que lí ao chegar aqui. É lindo, intenso e verdadeiro.
ResponderExcluirBeijos!
Mina
Malu,
ResponderExcluirNão é maravilhoso podermos compartilhar nossos pensamentos, um pouco do que somos e queremos ser através da escrita e encontrar outras pessoas sensíveis.
Teu texto é bem escrito e favorece a identificação com o leitor ao fazê-lo percorrer os caminhos desta viagem, através do belo, da realidade, do reconhecimento do outro e da esperança.
Parabéns. Te sigo.
Tenha um final de domingo de paz e inspirações.
Querida Xará. Chora você daí, eu daqui e quem sabe conseguimos inundar o mundo com o gosto pela vida?
ResponderExcluirBjs
O Fadinha, bom te receber por aqui. Sim, somos a cura. O exercício da prática é o que promove as mudanças de paradigma.
ResponderExcluirBjs,
Oi Guará. Também sou carioca e sofro com o nosso Rio. Mas em meio a tantas notícias ruins, ainda encontramos pessoas como você, preocupadas em dar voz a temas que provam que ainda somos seres humanos capazes de nos sensibilizarmos com uma boa canção, com bons gestos e boas causas.
ResponderExcluirUm abraço
Mina, seja bem-vinda e fique à vontade para lere sugerir. Sempre bom ampliar nosso leque de amigos por aqui.
ResponderExcluirUm beijo grande,
Oi Anna, seja muito bem-vinda. Suas palavras me dão fôlego para nova aventuras por aqui. Também te sigo. Seu blog é ótimo!
ResponderExcluirBjs,
Olá, passeando na net vi seu blog e adorei!
ResponderExcluirQue bela postagem esta sua, muito envolvente e original!
Parabéns!
bjkas e boa semana
Malu,
ResponderExcluirProponho...
Dou uma ideia
(ou um delirio)
Unamos esforços
para vencer tal martirio
construído uma ponte
uma consistente passagem
para a outra margem
quer exista quer não
façamos isso
não só com o coração...
(gostei do poema que me deixou)
Malu,
ResponderExcluirNão tem que agradecer você também é uma luz e um exemplo para mim. Não se esqueça amizade é uma das forma de amor, e amor não se agradeçe apenas se sente. Um grande beijo.
Olá Carmem,
ResponderExcluirBom receber sua visita. Sempre terei um drinque e um delírio para você.
Bjs,
Rogério, a ponte já está sendo construída, de lá para cá de cá para aí.
ResponderExcluirQue bom que gostou do poema.
Beijo grande,
Mara, o que mais dizer? Você disse tudo, amiga. Bjs e bom retorno a BH.
ResponderExcluirLindo, amiga! Parabéns pelo texto!!
ResponderExcluirEu fiquei imaginando a cara Rita. Como assim um rio que corta a cidade!? Cidade imensa.. kkkk
Morro de vontade de ver um rio da amazônia!
Bjos.
E tudo depende de parametros, pois para uns, pode ser algo de pequena valia, para outros, a diferença entre a vida e a morte...
ResponderExcluirFique com Deus, menina Malu Machado.
Um abraço.
Olá Malu.
ResponderExcluirObrigada pela visita e comentários, no meu blogue. Também gostei muito do seu!
Achei este texto muito sensível, ternurento, emocionante até. Gostei imenso.
Quanto aos transgénicos, infelizmente, acho que está errada, os transgénicos estão no Brasil, ilegalmente desde 1997 !
Confira aqui:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Transgenicos/
"Desde que os transgênicos chegaram clandestinamente ao Brasil, em 1997, o Greenpeace trabalhou para que o consumidor pudesse identificá-los e decidir se compraria ou não."
Obrigada pela dica, do livro,já anotei, para procurar :)
Um abraço.
Porque diminuir seus textos? Por favor, continue assim! ;-)
ResponderExcluirB-Jos.
Olá, tudo bem? Acompanhei os vários posts feitos. O alerta é importantíssimo. Uma pena não ter visto a chamada do Alexandre.
ResponderExcluirUm beijo
Polly, a cara dela foi essa mesma que você imaginou rss. Choque total de cultura. Muito bacana. Rimos muito depois.
ResponderExcluirBom te ver por aqui.
Bjs
Menino Daniel, adoreí o menina!! Sim, o cadinho de um pode ser o banquete de outro.
ResponderExcluirObrigada pela visita.
Bjs
Oi Fernanda, vou pesquisar sobre os transgênicos no Brasil. Obrigada pela visita.
ResponderExcluirLendo o livro, me diga o que achou.
Bjs
Oi Pri, tando preguiça de ler não?? rss Que bom! Mesmo assim vou tentar ser mais sucinta.
ResponderExcluirOi Isadora,
ResponderExcluirAno que vem você entra. Bom te ver por aqui.Espero que volte.
Bj
Po 37 coments! Nem deu falta do meu comentario! hehehehe Linda postagem sobre a agua! ficou mto melhor que a minha! hehehe Parabens.
ResponderExcluirQuerida Dydy, não há postagem melhor, o importante foi a sua, a minha a participação e tantos blogueiros em prol desta causa.
ResponderExcluirSim, sempre ficarei feliz com sua postagem e de tantos outros. Significa que gostaram, significa que o que escrevo mexe com as pessoas. E sempre sentirei sua falta, quando não vier me visitar.
Bjs
Adorei a foto do garoto na chuva ou no banho de mangueira! Vc sabe... meu negócio são as imagens, palavras são para os sábios, que sabem moldar dar vida a estes pequenos símbolos que nos fazem tão especiais!
ResponderExcluirBeijos Blue
Ah quanto ao absinto.. toda vez que venho aqui fico meio ask j ds i jf hã queuaeu que aconteceu! hic! Risos.
ResponderExcluirBeijos Blue!
Preguiça em ler seus textos não existe querida!!!
ResponderExcluirPode faze-los até maior se quizer!
Olha só, fiz um fotoblog: http://fleshspriscillamarfori.blogspot.com/
Gostaria de te-la como amiga lá também!
B-Jos.
Malu, vim retribuir a visita e achei seu lindo texto sobre a água.Todo mundo devia saber que a água é um bem finito.
ResponderExcluirabs carinhosos
Jussara
que bom ler voce.
ResponderExcluirQue bom vir aqui.
Maurizio
Blue!!!!!! Se for dirigi, não beba!!!!!! kkkkkkk
ResponderExcluirImagem e palavras se completam. O mundo não teria a mesma graça se não houvessem tantas maneiras humanas de expressão.
Um beijo,
Oi Jussara,
ResponderExcluirBom que você veio. Espero que retorne sempre.
Beijo,
Posso navegar também no seu barquinho, mesmo que ele seja de papel?! O mais incrível é que, mesmo ele sendo de material tão frágil, vai tão longe... Malu, o melhor rio do mundo é o rio que corre na nossa terra... mesmo que eu enxergue a margem do outro lado. Vejo que a sua viagem foi além dos limites de qualquer rio... mesmo desses que, de tão largo, não se vê o outro lado. De um lado o mistério e o medo do desconhecido. Do outro, a felicidade e o conforto de saber o que há na outra margem... tudo é relativo. E quando voltar ao Pará, diga à menina de sorriso largo, a quem vc sugeriu que ficasse triste apenas por um instante (nada além que 30 segundos)- o suficiente para para lubrificar a visão e traçar nova rota de existência - completando com o poema de Duda Mendonça:"Em 30 segundos tudo se apaga ou se ilumina. Tristeza ou adrenalina...Em 30 segundos
ResponderExcluirVocê lembra/E o passado vem a tona/ Em 30 segundos/Você esquece,/Volta a sorrir/ E novamente se apaixona " O importante é isso: "é ter o direito de dizer coisas sem sentido, de não ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido... de me apaixonar todo dia".
Vc é poeta, moça, nem sabe disso!
Beijos!!