"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

De perto ninguém é normal

Victor Molev - Jim Morison
Outro dia recebi de um amigo uma dessas mensagens em Power Point que mostrava a obra do artista russo Victor Molev.

Logo que vi me lembrei do brasileiro Vik Muniz, aquele que faz arte com lixo, sucata, diamantes e caldas de chocolate. No início deste ano visitei uma exposição de Vik no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba – MON

Vik Muniz elizabeth Taylor em Diamantes



Fiquei impressionada. Acho que a palavra que nos toca os lábios depois de vivenciar ambas as obras é esta.

Refletindo sobre o trabalho dos artistas, o que me toca a alma é pensar na releitura que é possível fazer quando nos distanciamos e nos aproximamos de situações.

Uma amiga comentou comigo a tristeza pelo fim de um relacionamento amoroso. Não há razões, certo ou errado, apenas pontos de vistas diferentes.


Uma vez me disseram: toda questão tem pelo menos 12 lados. Nossa! Como isso me soou familiar.

O maior legado deixado pelo meu pai foi me ensinar a viver com as diferenças. Isto não quer dizer que aprendi de todo a lição. Esta atitude necessita de uma dedicação diária.

É muito difícil abrir mão do nosso querer ao depararmos com o não-querer do outro. Como assim, não sou interessante o bastante para você? Ou ainda, o meu querer é menor do que o seu? Por que sou eu a ter que ceder? O tal consenso ou a concessão é um exercício que nem sempre queremos praticar. 

A questão é sempre a mesma – a expectativa que depositamos no outro de sermos ou não aprovados socialmente.

Quantas e quantas vezes nos sentimos magoados, pouco valorizados, injustiçados?

Iniciei em maio deste ano a leitura de um livro de Krishnamurti. Espero um dia terminá-la. O “anti-guru, anti-líder indiano, da casta dos Bramanês, nos fala de coisas como a mente torturada, a armadilha da responsabilidade, o aprender, o conhecer-se, a totalidade da vida, entre outras coisinhas bem profundas.

“Nós, entes humanos, somos os mesmos que éramos há milhões de anos – enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos, ansiosos e desesperados, com ocasionais lampejos de alegria e afeição. Somos uma estanha mistura de ódio, medo e ternura; somos a um tempo a violência  e a paz.” (Krishnamurti – Liberte-se do Passado)


Bom, o fato é que nas afinidades e desafinidades apostamos em relacionamentos – amorosos ou não –, nos aproximamos uns do outro, vivenciamos nossos momentos de êxtase e, no instante seguinte, começamos a ver sem os olhos de espelho 
e o mundo desmorona. 

De perto, ninguém é normal. E o que fazer quando descobrimos que o outro não se encaixa no script que criamos em nossa mente? 

Quando percebemos isso e pulamos fora primeiro, tudo bem. Mas, quando é o outro que nos rejeita, aí se abre uma ferida enorme. A Paixão é bela quando vivida a dois.

Quando o outro não dá sinais de investimentos na relação, então é hora de encarar os fatos, cumprir o luto, xingar, alugar os amigos para descobrir que este outro não era nem tão bom, nem tão ruim.

Afinal, a julgar pelas obras de Vik e de Molev, de perto ou de longe, não somos tão feios assim, apenas projetamos visões diferentes, dependendo do ângulo de quem nos olha.

19 comentários:

  1. Malu,

    Li Krishnamurti no inicio dos anos 70, não me lembro de detalhes, mas neste pequeno trecho você o resumiu bem, pelo que me lembro.. Somos essa dicotomia entre o bem e o mal, todos nos...
    A nossa diferença esta em nossos valores, influencias, introspecções, forjadas desde o nascimento. As experiências contam muito, uns aprendem com elas, outros não. O que somos depende da nossa percepção da vida. Não existe ninguém igual, talvez semelhanças, proximidade, afinidades. O que torna difícil qualquer tipo de relacionamento é a expectativa que a gente mesmo cria. Cada um é como é. As vezes se contem em determinados pontos, força a se soltar em outros, mas a essência não muda.
    O ideal seriamos conseguir nos apresentarmos como nós mesmos, com virtudes e defeitos, sem mascaras, sabendo exatamente o que cada um é, a convivência seria bem mais fácil. Mas a vida não é assim, vivemos de convenções sociais. Controlamos nossos demônios. Por isso a verdade da frase: Olhando de perto, ninguém é normal.
    A gente é que tem que continuar a busca constante do autoconhecimento e da melhora como individuo. Assim nos tornamos mais palatáveis para os relacionamentos.A gente tem muito a aprender.
    Puxa, falei demais....

    bjo

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  2. Nossa... Difícil até comentar seu texto, tamanha a profundidade. Só posso dizer que concordo com cada linha. Afinal, 16 anos de casada depois, sei bem que ninguém é perfeito. De perto, ninguém é normal mesmo! Conheço as loucuras do meu marido e ele conhece as minhas, rsrs. E quem nos olhe de longe pode falar: "Nossa, que casal perfeito!" Só que, obviamente, não é bem assim...

    Na vida, são mesmo muitos ângulos a se observar... No mínimo 12, como vc bem escreveu!

    Beijos!

    Ah, ainda não vi o filme Comer, Rezar, Amar. Gostaria muito de ler um post seu sobre o assunto!

    Beijos de novo!

    Ana Prôa
    www.analuciaproa.blogspot.com

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  3. Ao chegar me deparei com textos gigantes, logo depois me deparei com a intensidade de cada um deles, em seguida percebi que é impossível não voltar!
    Belo blog e grande abraço.

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  4. Estarei lhe seguindo, me siga também?
    B-Jos querida e parabéns pelo blog.

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  5. Oi Lufe, falou de menos! rss.Fale o quanto quiser por aqui. Devaneie bastante e traga alguma luz para os meus pensamentos!! Acho que a necessidade de escrever que temos é para oxigenar idéias.

    Beijo grande.

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  6. Oi Ana, aqui em casa é mais ou menos parecido com o que você disse. A prática da aceitação é difícil, não é? Por vezes podem voar panelas(metafóricas, mas existe algo de bom que nos faz continuar juntos.

    Sobre o filme, já estava pensando nisso. Vou ver se me inspiro.

    Beijo grande

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  7. Oi Priscilla, este é um grande dilema meu! Como fazer caber tanto pensamento em um espaço adequado ao mundo cibernético? Na época da faculdade de jornalismo chamávamos isso de ditadura da lauda: o mundo todo em 21 linhas de 70 toques. Bom, Às vezes eu extrapolo. Que bom que não desistiu de mim !!!

    Beijos

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  8. Oi Malu eu cresci escutando a frase " alguem tem que ceder" acho que a vida é um jogo e para se ganhar alguma coisa tem que se "perder" algo, abrir mão de alguma coisa como se fosse um entra e sai ou uma roda ... beijos até mais

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  9. Malu!!
    Que brilhante analogia você fez!!!
    Nossa, me deliciei com seu texto.:D
    Para ler e reler...
    Agradeço tb. sua presença lá no Balanço.
    De coração!
    Beijo grande

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  10. Sim, Alexandre,

    O primeiro passo do amor é o objeto de Narciso. E ao sucumbir ao reflexo das águas, embaralhamos tudo e descobrimos quem não somos. E pior, o que somos.

    Bjim

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  11. Oi Maria Emília. Esta é uma das propostas do Krishnamurti, uma sociedade em que não haja o toma lá da cá, o famoso o que eu levo em troca. Mas, cara amiga, acho que estamos muito longe disso ainda. Concorda?

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  12. Regina, eu que agradeço a sua visita. Vou tomar mais um drinque e ir balançar mais um pouco rss.

    Beijo

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  13. Sabe, Malu, outro dia ouvi uma amiga dizer "o amor não é deste mundo"... sendo assim, "tenho quase certeza que eu não sou daqui"! Ao ler o que o nosso amigo "Lufe" disse acima, lembrei de um filme que se chama "O primeiro mentiroso"... a idéia é muito boa, sugiro que o veja. Deveríamos mesmo ser nós mesmos...sempre. O problema dos relacionamentos se chama "autorreferência"... sempre pensamos que as pessoas agiriam da mesma forma que agiríamos...ledo engano! É medir forças desiguais... As diferenças...respeitar as diferenças ou então optar por ser igual ao outro são formas de sofrer menos. "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional". E Drummond vai mais além: sofremos "porque automaticamente esquecemos
    o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
    irrealizadas..." Todos têm suas próprias razões...e com o amor é assim - vai...se você precisa ir... porque "essa saudade eu sei de cor...sei o caminho dos barcos..."

    Beijos!!

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  14. Oi Malu, como tá vc? Bom poder estar aqui de novo, especialmente lendo um texto tão legal, que casa com as muitas reflexões q faço sobre o mundo, sobre ser e existir. Apesar de todas as diferenças, nossas semelhanças nos aproximam, não é mesmo?

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  15. Olá Malu,
    Adorei a sua visita e fiquei feliz em tê- la como uma de minhas seguidoras.
    É muito bom compartilhar um pouquinho de nós com almas doces, como a sua que assim deve ser.
    Gostei do teu espaço e vez ou outra estarei por aqui.
    Grande beijo e um lindo fim de semana!

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  16. Malu querida mais um lindo texto!!! Realmente, de perto NINGUÉM é normal. Que bom! rsrsrs Ninguém é igual, projetamos imagem de como queremos o outro e acabamos nos esquecendo da individualidade de cada um ou de nós mesmos, muitas vezes nos magoamos por não entender, por não olharmos com os olhos da alma.
    É preciso ceder, é preciso entender, é preciso viver... É uma longa caminhada e um aprendizado. Tudo depende da percepção de cada pessoa sobre a vida, sobre o outro. Vamos aprendendo com a própria vida, com cada relacionamento e sabe que tb muito aprendi e continuo aprendendo a cada paciente com a reorganização? Textos como esse nos fazer refletir e aquecem. Bom feriado p/ vc! Grande beijo

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  17. Malu,

    Acredito cada vez mais em: "Cohece-te a ti mesmo".Esta frase estava inscrita na entrada do templo Delfos e divulgada por Socrates é o grande segredo para tudo em nossa vida.

    Bjs. Mara

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  18. Não li os comentários, mas a única coisa que me veio a cabeça dizer é: o normal é ser anormal. :)

    Bjos.

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