Gato de Cinque Foto: Malu Machado |
Para quem não sabe o animal
símbolo da Itália é o gato. Na região montanhosa de Cinque Terre, na costa da
Riviera Ligure, encontrei com gatos enormes. O que mais me chamou a atenção foi
que eles circulavam em plena luz do dia em meio a centenas de turistas. Os
bancos das praças são deles. Um desses felinos, consegui fotografar. Os cães, também
enormes, transitavam por ali sem que eu presenciasse nenhum conflito de
território.
Isso me fez pensar que a tão
sonhada qualidade de vida chegou por aquelas bandas. Cinque Terre também
passou
suas crises e também deve tê-las. Mas por hoje, os gatos são gordos. Sinal de abundância
nas famílias. Nunca me esqueci de quando li Vidas Secas de Graciliano Ramos, o choque
que senti ao descobrir a personagem Baleia. Baleia, a cachorrinha da família,
acompanha parte da jornada dos retirantes pela seca do nordeste brasileiro. O
homem e a mulher batizaram a Baleia. Os filhos, esses não precisavam de nomes.Cinque Terre Foto: Malu Machado |
Quando um povo fica faminto, existem
vários sinais que refletem essa fome. E um povo pode ficar faminto de muitas
formas. De ideias, de sonhos. O ser humano pode ter fome até de conflito.
Conflito aguça, espanta a preguiça e esquenta os desejos. Esse tipo de fome é
bom ter.
Os argentinos estão em uma
fase de fome voraz no cinema, com uma safra de arrepiar. Sob a direção de Gustavo
Taretto, o filme Medianeras estreou no Brasil em 2011 e levou o prêmio de
melhor filme estrangeiro em Gramado.
Entre outras sacadas geniais,
o enredo fala deste “não lugar” onde nos encontramos quando estamos em crise.
Aqui em nosso país chamamos as medianeras de empenas secas ou laterais sem
janelas de um prédio. Aquele lugar onde ninguém olha e que por isso mesmo não
precisa ser cuidado, pintado, reformado. Até que um dia a pintura descasca na
frente, por dentro e não há mais como esconder, como se esconder.
A Europa em crise, o mundo em crise, eu e você no divã.
Todos querendo se encontrar, querendo um lugar. Desejo de ser gato bem resolvido, curtindo o rei sol. Lambidas aos
montes no nosso ego. Olhar de quem sabe o que quer, andar de quem vai
conquistar o mundo. Sigo sonhando.
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Excelente texto minha querida, é verdade sim, quando dizes que se pode ficar faminto de varias coisas.
ResponderExcluirTambém aqui vamos sentir e ver muita gente faminta, infelizmente.
Eu tenho 4 gatas e 1 gato.
beijinho e uma flor
Amei!!!Estava faminta de mais um texto seu! bjinhos!!!
ResponderExcluirMaravilhoso este texto.
ResponderExcluirAcho os gatos lindos,mas acreditas que tenho medo deles?
Beijinhos Malu
Adorei o texto, o blog e Medianeiras (Que filme!). Sua analogia entre fome e criação foi perfeita, muito bom conhecer outros olhares...
ResponderExcluirPrazer em conhecer o seu Absinto, Malu. Beijão
Excelente crónica, conciliando da melhor forma o observar com o sentir.
ResponderExcluirBeijo :)
Que metáfora bem urdida essa da fome! Texto fluido, bem escrito... gostei!
ResponderExcluirAbraço!
Olá!
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
Minha mãe tem 30 gatos na casa dela, acredita?
Tenha uma ótima tarde!
Rê
http://femmedigital.blogspot.com.br/
Tem graça que não me lembro de gatos em Cinque Terre. Mas diga-se de passagem que também estava tão em delírio com as vistas que não devo ter conseguido assimilar todos os pormenores :)
ResponderExcluirSue, pois eu fiquei fascinada de vê-los andando tão confiantes à luz do dia. Acho que vc acaba de arrumar um bom motivo para voltar por lá. Aproveita!
ExcluirMe deu vontade de viajar, o texto é um covite a coias boas vida
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