![]() |
internet mapping |
O grande escritor James Joyce escreveu um livro muito interessante chamado Dublinenses, onde ele retrata a vida social em sua cidade natal. O livro de Joyce foi feito em uma época em que as diferentes artes buscavam questionar o comportamento social moldado nas aparências. Podemos citar muitas outras obras que perseguiram este mesmo tema, como todos os filmes de Buñel, por exemplo.
Refletindo sobre alguns acontecimentos recentes na minha vida, fiquei pensando na literatura atual. Hoje questionamos a nós mesmos. Não temos mais medo de nos expormos ao ridículo. Como diria Drumond, virou moda ser gauche na vida. E nos tempos de reality show, quanto mais expostos, melhor.
Seja no twitter ou no facebook ou em qualquer outra mídia social, o bacana agora é, a qualquer momento, deixar um recado aos “amigos”: Ei, eu estou vivo, estou por aqui e hoje me aconteceu isso e aquilo.
E todos querem ser engraçadinhos e arrancar um curtir ou um compartilhar, um “retuitar”. Ou seja, queremos saber que fomos lidos e repassados à diante.
Repassados à diante. Talvez para a eternidade. Um amigo meu faleceu no ano passado e os comentários dele no FB continuam vivos por aí de micro em micro. É, sem dúvida nenhuma a relação espaço/tempo nunca mais será a mesma.
Falar no FB é como passear por uma rua movimentada de nossa cidade, ou ir aquele point da moda em que com certeza você vai encontrar pessoas conhecidas. E, como na vida real não virtual, há os que falam mais, os que falam menos e os que apenas observam.
O mundo “retuitado” mudou. E, com ele, as relações de amizades e de trabalho. Pessoas que nem poderiam sonhar que eu mantenho este blog são avisados da sua existência via meu FB. Podem nunca entrar aqui, podem vir, ler uma vez e também não voltarem. Mas com certeza têm a chance de saber mais sobre mim do que em um contato não virtual.
Eu posso colocar meus filtros e deixar passar somente o que gostaria que vissem em mim (será?), mas o fato é que esta exposição me torna mais humana e mais igual, nem que seja no imaginário de quem me lê.
Podemos ser apenas um jogo de palavras bonitas (mesmo quando estamos tecendo comentários raivosos). Podemos estar jogando o jogo do contente, pintando um mundo cor de rosa. Mas, então, não estamos muito diferentes da sociedade retratada por Joyce em Dublin. Embora com uma roupagem internáutica, ainda arrastamos nossas longas saias pelos bondes e curvamos nossos chapéus aos poderosos.
Quebrar a casca do ovo, modificar nossa maneira de agir e de interagir com o outro, são desafios constantes para a humanidade. Talvez por tocar profundamente na ferida, Dublinenses levou tanto tempo para ser aceito por uma editora e ainda mais tempo para ser aceito por seus leitores. Talvez por isso Joyce continue tão atual.