"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Luas e Luas - Por James Thurber



Em um reino muito... muito distante...
Havia um rei muito... muito preocupado.
Sua filha, princesa Letícia, estava muito... muito doente
e passava o dia inteiro de cama...


O médico real já havia feito de tudo.
O rei muito... muito preocupado, chegou perto de sua querida filha e perguntou:
— Eu lhe dou tudo o que seu coração quiser... Seu coração quer alguma coisa??
— Sim! — disse a princesa Letícia. — Quero a lua. Só fico boa de novo quando tiver a lua. 
O rei sempre conseguia o que queria. Logo, imaginou que não seria problema conseguir a lua.

Então, o rei chamou o conselheiro real.
Era um homem engraçado... gordo... alto... e com óculos grandes que faziam seus olhos parecerem duas vezes maiores do que realmente eram. Também faziam o conselheiro real parecer duas vezes mais sábio do que realmente era.
E o rei disse: 
— Quero que me consiga a lua. A princesa Letícia quer a lua. Só assim ficará boa de novo.
— A lua?? — disse o conselheiro, arregalando os olhos... que o fez parecer quatro vezes mais sábio do realmente era.
— Sim!! A lua!! — disse o rei.
— Mas... é impossível... A lua fica a 55.000 quilômetros daqui... é maior que o quarto da princesa Léticia. Além de ser feita de cobre. Conseguir a lua?? ...é impossível!!
O rei ficou com muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Depois chamou o feiticeiro real.
O feiticeiro era baixinho... com um nariz de um palmo e meio... e usava um chapéu pontudo cheio de estrelas...
Ficou branco como a lua quando o rei lhe disse o que queria.
Então, o feiticeiro disse:
— Mas... é impossível... A lua fica a 250.000 quilômetros daqui... é maior que esse palácio . Além de ser toda feita de queijo. Conseguir a lua?? ...é impossível!!
O rei ficou com muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Depois, chamou o matemático real.
Era um homem careca, com um lápis em cada orelha... e que vivia fazendo contas...
Principalmente, quando o rei lhe disse o que queria... 
Então disse:
— Mas... é impossível... A lua fica a 500.000 quilômetros daqui... é maior que todo esse reino. Além de ser toda feita de prata... e é redonda e chata como uma moeda. Conseguir a lua?? ...é impossível!!
O rei ficou com muita... muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Depois chamou o bobo da corte.
O bobo chegou alegre e saltitante... e disse:
— O que posso fazer pelo senhor, Majestade?
E o rei disse, melancólico:
— Ninguém pode fazer nada por mim... A princesa Letícia quer a lua... mas ninguém pode consegui-lá. Ah! Ninguém pode fazer nada por mim... por favor toque algo em seualaúde... toque algo bem triste...
O bobo da corte começou a tocar algo no alaúde e perguntou:
— Mas o que eles disseram??
— Bom... o conselheiro real disse que era impossível... que a lua fica a 55.000quilômetros daqui... é maior que o quarto da princesa Léticia. Além de ser feita de cobre. Já o feiticeiro real disse que era impossível... que a lua fica a 250.000 quilômetros daqui... é maior que esse palácio. Além de ser toda feita de queijo. E o matemático real disse que era impossível... que a lua fica a 500.000 quilômetros daqui... é maior que todo esse reino. Além de ser toda feita de prata... e é redonda e chata como uma moeda.

O bobo da corte pensou... e disse:
— São todos sábios... e todos devem estar certos... a lua deve ter exatamente o tamanho e a distância que cada um acha que tem... A questão é descobrir de que tamanho a princesa Letícia acha que ela é, e a que distância se encontra.
— Não tinha pensado nisso — disse o rei.
— Vou lá perguntar a ela, Majestade.

A princesa Letícia ficou feliz ao ver o bobo da corte...
— Você trouxe a lua para mim?? — perguntou ela.
— Ainda não... mas vou consegui-la.  De que tamanho você acha que ela é?
— Ah! A lua é um pouquinho menor que a unha do meu dedão... Porque quando a coloco na frente da lua, ela a cobre direitinho...
— E a que distância ela fica?
— Não fica muito longe... Às vezes fica presa nos galhos mais altos dessa árvore do jardim real.
— Ah! Vai ser facílimo conseguir a lua para você. Vou subir na árvore esta noite, e quando estiver presa nos galhos vou pegá-la para você. Ah!! Mais uma coisa... A lua é feita de quê, princesa Letícia??
— Oh! Bobo da corte, mas como é bobinho... A lua é feita de ouro, é claro.

O bobo da corte foi correndo até o joalheiro real e pediu-lhe que fizesse uma luazinharedonda de ouro, só um pouco menor que a unha do polegar da princesa. Depois pediu que a pendurasse numa corrente de ouro, para que a princesa pudesse usá-la no pescoço.
O bobo da corte levou a lua para a princesa que ficou tão... tão feliz que no dia seguinte pulou bem cedo da cama e foi brincar no jardim real.

Porém, o rei continuava muito... muito preocupado.
Então, o rei logo chamou o conselheiro real.
— Precisamos esconder a lua — disse o rei. — Se a princesa Letícia vir a lua no céu, vai achar que mentimos para ela e ficará doente de novo e isso eu não posso suportar... Você precisa impedir que a princesa Letícia veja a lua brilhar no céu esta noite. Pense em alguma coisa.
conselheiro pensou... pensou... e depois falou:
— Já sei!! Vamos fazer óculos escuros de forma que quando usá-los não vá enchergarnada.
O rei ficou muito zangado:
— Ficou louco?? Se ela não ver nada, vai sair esbarrando nas coisas e pode até se machucar...
O rei ficou com muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Depois chamou o feiticeiro real.
— Precisamos esconder a lua — disse o rei. — Se a princesa Letícia vir a lua no céu, vai achar que mentimos para ela e ficará doente de novo e isso eu não posso suportar... Você precisa impedir que a princesa Letícia veja a lua brilhar no céu esta noite. Pense em alguma coisa.
O feiticeiro pensou... pensou... e depois falou:
— Já sei!! Vamos fazer um grande cortina de veludo negro para contornar todo o palácio, assim ela não poderá ver a lua.
O rei ficou muito zangado:
— Ficou louco?? Assim o ar não vai entrar e ela pode adoecer.
O rei ficou com muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Depois chamou o matemático real.
— Precisamos esconder a lua — disse o rei. — Se a princesa Letícia vir a lua no céu, vai achar que mentimos para ela e ficará doente de novo e isso eu não posso suportar... Você precisa impedir que a princesa Letícia veja a lua brilhar no céu esta noite. Pense em alguma coisa.
O matemático pensou... pensou... calculou... calculou... e depois falou:
— Já sei!! Vamos soltar fogos de artifício todas as noite no jardim real assim ela não vaienxergar a lua com tanto brilho no céu.
O rei ficou muito zangado:
— Ficou louco?? Com essa barulheira toda ela não vai dormir e vai adoecer de novo.
O rei ficou com muita... muita... muita raiva e mandou ele sair da sala.

Então, chamou o bobo da corte.
O bobo chegou alegre e saltitante... e disse:
— O que posso fazer pelo senhor, Majestade?
E o rei disse, melancólico:
— Ninguém pode fazer nada por mim... Ninguém consegue esconder a lua para mim... Quando anoitecer, a princesa Letícia vai ver a lua... e vai achar que mentimos para ela e vai adoecer novamente. Ah! Ninguém pode fazer nada por mim... por favor toque algo em seu alaúde... toque algo bem triste...
O bobo da corte começou a tocar algo no alaúde e perguntou:
— Mas o que eles disseram??
— O Conselheiro sugeriu óculos escuros; o feiticeiro, cortinas por todo o reino; e o matemático, fogos de artifício...
E o bobo disse...
— Seus sábios conhecem tudo... se eles não conseguem esconder a lua, é porque não é possível escondê-la.
E rei deu um salto ao ver a lua surgindo no céu...
— Olhe!! — gritou. — É a lua brilhando no céu. Quem vai explicar como a lua pode estar no céu se está pendura em volta do pescoço dela?
E bobo disse:
— Bom... Quem soube dizer como conseguir a lua quando seus sábios disseram ser impossível?
— Foi a princesa Letícia.
— Portanto, a princesa Letícia sabe mais que os sábios e conhece melhor a lua do que eles... vou perguntar a ela...

E antes que o rei pudesse impedi-lo, o bobo da corte já estava entrando no quarto da princesa...
Ao vê-la na janela contemplando a lua... ficou muito triste e uma lágrima brotou de seus olhos...
— Diga-me, princesa Letícia... Como a lua pode brilhar no céu se ela está pendurada numa corrente em volta de seu pescoço?
A princesa olhou e riu...
— Oh! Bobo da corte, como você é bobinho... Então não sabe?? As luas são como dentes de leite... Quando uma cai, nasce outra no lugar!!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Os cinco minutos de história


Ardentia do Mar

Contar histórias é um dom que invejo e almejo. Aquele contar despojado de quem faz de uma boa história até o beber de um copo d’água. São pessoas que têm prazer na conversa presencial, sem pressa, coisa rara em tempo de smartphones. São pessoas que observam o outro, e em cinco minutos conseguem absorver o que o outro gosta de comer, vestir e como pensa. E daí puxa a prosa.


Gosto de gente que gosta de gente. Tenho uma prima assim. Faltando pouco menos de dois meses para completar um ano de casada, meu pai faleceu. Minha prima, uma das madrinhas, veio me visitar. Viagem de ônibus, malas e no colo um delicado vaso de lisiantus iguais aos que usei em meu buquê de noiva. Gentileza de quem enxerga o outro. Só por isso, teria razões para amá-la o resto de minha vida e terei com ela ainda mais histórias a compartilhar.


Acabamos de voltar de férias na praia e por lá cresceu um desejo de mostrar ao meu filho e ao meu marido um fenômeno que vivenciei há alguns anos. A ardentia do mar, como chamam os marinheiros, causada pela luz incandescente dos planctos. É com caçar Saci, cheio de rituais, mas existe. Só se pode ver à noite, em épocas quentes, e em noites sem lua. É preciso mexer a água para que ela apareça.


E foi aí que encontrei um ex-pescador que hoje explora esportes aquáticos como caiaque, stad up, entre outros. E perguntei a ele se conhecia a incrível luminosidade. Ele disse que sim e me deu dicas de como vê-la naquela mesma praia à noite.


Como que precisando explicar o meu desejo a um estranho, ou mesmo justificá-lo, falei de meu amor pelo mar. De como, mesmo nascendo perto do mar, fui levada para longe e minha relação permanece assim, feita de encontros fugidios.

Foi a sua deixa. Em cinco minutos contou a vida de seu avô até a sua, me prendendo o olhar e a atenção a cada palavra:


“Meu avô era português. Conheceu minha avó após a guerra e se casaram. Seu sonho era vir morar no Brasil. Minha avó engravidou de meu pai e eles acertaram que, após o nascimento, eles viriam para cá. Mas meu avô tinha ficado exposto a agentes químicos na guerra. Muito doente, faleceu antes que meu pai nascesse. Meu pai cresceu ouvindo histórias sobre o desejo de seu pai de atravessar o Atlântico. Mas até se tornar um adulto, ele nunca havia visto o mar. Morava em uma cidade do interior de Portugal. Então, um dia meu pai foi conhecer o mar e decidiu que viria para o Brasil, vivendo o sonho de meu avô. E veio. Aqui, ele trabalhou com materiais de construção em Brasília e depois mudou-se para o litoral carioca. 

Um dia, juntou dinheiro e comprou um barco de pesca para os finais de semana. Ele e seus amigos portugueses passeavam bastante. Cresci em meio a isso tudo e em meio as ardentias do mar nas noites de pesca. Quando completei 18 anos, estava decidido a ir para a Marinha. Mas eu e um amigo fazíamos explosivos caseiros. Nesta época, um deles explodiu e foi aí que perdi minha mão esquerda. Não pude entrar para a Marinha, então fui arranjar um emprego. Em um hotel aqui perto, havia vaga para cozinheiro ou marinheiro, escolhi o segundo, é claro. Ao final do primeiro ano, havia comprado meu primeiro barco e fazia a travessia dos clientes do hotel, que ficava em uma ilha. Não parei mais e não me vejo fazendo outra coisa na vida que não seja ligada ao mar”.


Há pessoas que nos tocam com suas histórias e nos fazem repensar por onde largamos nossos sonhos.

sábado, 2 de novembro de 2013

Caleidoscópio



Vidrilhos coloridos
Acolhem o meu olhar
Observo o mundo
Vasto e infinito?
Tantas escolhas
O que quero?
O que posso?
O pensamento vagueia.
Sorrio com as formas.
Retratos de almas,
Desenhos de Baubo, a deusa do ventre,
Mandalas do saber sagrado.
E Eu que nada sei,
Salto para dentro.
Lá no fundo, de ponta cabeça, flutuando solta.
Apenas um fio a me ligar com a Terra.
O mundo das gentes.
Estou lá e cá.
Às vezes mais lá.
Mas ainda há um fio.