O legado maior que alguém pode dar a uma criança é a capacidade da imaginação. Chega a estação em que tudo dói dentro da gente. Dói o coração e os joelhos e dói profundamente suspirar pelo tempo que passou. Tenham sido bons ou maus tempos.
Tudo dói no pensamento.Penosas são as horas de insuportáveis desesperos, fadiga, impotência, um vazio sem muito um porque, uma sem vontade danada da vida.Nessas horas, o que alimenta a alma é o alicerce dos anos de alegria em que os dias e as noites passavam como relâmpagos que nem dava para brincar de tudo e os meses e anos eram longos, longos e sem fim.
Nos meus tempos de criança, vi figuras grandes que passavam e pareciam tão tristes. Hoje sou eu quem passo com meu rosto caído. Embora o outono se avizinhe revelando a chegada do inverno, ainda sinto o calor do sol e o brilho da esperança. Ainda consigo me alegrar com o canto dos pássaros.
Talvez porque algum dia, algum grande me ensinou a acreditar em coisas mágicas e simples. Bem simples.
"Não ensines a teu filho que as estrelas
Não são do tamanho que parece ter:
Maiores do que a terra!
São lâmpadas que os anjos acendem todos os dias
Assim que o sol começa a escurecer...
Não diga a teu filho
Que as asas dos anjos
Só existem na imaginação
Já vi meu anjo em sonho e posso jurar
Que ele tem asas claras
Que até parecem feitas de luz.
Não encha a cabeça do teu filho
Ensinando-lhe hipóteses precárias
Que amanhã de nada servirão.
Povoa de beleza
O olhar inocente do teu filho.
Dá-lhe uma provisão de bondade
Que chegue para a marcha da vida.
Infundi-lhe na alma o amor de Deus
E tudo mais por acréscimo ele terá."
Dom Helder Câmara