"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Minha idéia é meu pincel - Inundada em cores


Irises in Monet's Garden


Pretendia dizer eu ao ilusório que ele estava enganado ao meu respeito.
Sou feita de terra, não é qualquer sonho que me faz divagar.
Por outro lado, trago em minha essência um gosto constante pela curiosidade das coisas.
Foi isso que me fez provar o apetitoso pãozinho coberto de açúcar e recheado de anis.
Em sua borda, as inscrições “Coma-me” levaram-me ao mundo de Alice.
No entanto, era o desafio da esfinge que me intrigava: “ou devoro-te”.
Atravessei o jardim embriagada pela fragrância das flores. 
O lago ao fundo prometia. Mas o gostoso mesmo era perder-se nas matizes e entre tons.
Voltei para casa trazendo no corpo um cheiro de erva-doce.



Leitores, esta é uma participação na Blogagem Coletiva  proposta pela Glorinha de Lion em seu blog. A proposta é escrever o seu sentimento sobre um quadro escolhido toda semana. A brincadeira começou.
 Quem quiser participar, é só dar uma passadinha no blog dela.
Esta foi a minha viagem pelo quadro de Monet.

domingo, 24 de outubro de 2010

De salto alto




Passou batom
Usou perfume
Vestido de seda
Salto alto
Entrou na festa com olhar de perdigueira
Resoluta.
Buscou a caça.
Ao telefone o encontro era certo.
Não estava
Desencontro? Vó doente? Dor de dente?
Atropelado, seqüestro-relâmpago, morte de parente?
A noite perdeu o brilho, ela perdeu o brilho.
Desencantada, Cinderela volta para casa.
Pelo retrovisor do carro a cena do cara. Nova namorada.
48 horas de luto. 
De nada adianta o consolo dos amigos
Choro compulsivo, pensamentos suicidas
No espelho procura pelas respostas:
Sou gorda de mais? Magra de mais? Alta, baixa, quieta, atirada?
O que tem de errado comigo?
No domingo, sol de Ipanema
Telefone toca, convite de amiga.
Põe seu biquíni novo, óculos escuros, saída de renda
Tira o salto.
Do alto de sua rasteirinha, encontra novo amor, tomando água de coco.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Segredos de menina



Todas as manhãs quando acordava, permanecia alguns minutos ainda deitada na cama de olhos fechados apenas com a sensação gostosa de ouvir vozes na cozinha de minha avó. Sempre me punha a imaginar que escutaria dali um segredo de família que nunca houve. Entre as frases recortadas seguia-se o cheiro do café que desde menina minha mãe me ensinou a apreciar.

Eram férias de verão. A casa de minha avó não tinha forro. No teto, era possível ver as telhas e ouvir, por vezes, sons de morcegos que sobrevoavam a noite. Os visitantes, mesmo não sendo freqüentes, rendiam histórias sem fim entre os primos e primas já debaixo dos cobertores.

Em janeiro sempre chovia. E nas tardes de chuva intensa, nossos olhos seguiam pregados nas janelas atentos aos rios e lagos que se formavam pelas ruas. Ficávamos a calcular em uma matemática ainda não aprendida qual o melhor local para darmos um grande salto, capaz de molhar quanto mais pudéssemos o nosso corpo.

O tempo também se media pela quantidade de barquinhos de papel que conseguíamos produzir para lançá-los após a chuva intensa. Muitos afundavam antes da curva na rua de baixo. Outros seguiam heróicos pelos caminhos da enxurrada, enchendo de orgulho o seu construtor.

São histórias singelas de uma infância querida, na qual a passagem das horas era medida pelo matar da fome, da sede e do sono e por insistentes apelos dos tios e tias para tomarmos pelo menos um banho por dia.

Relógio de criança é diferente.

Hoje, se eu fosse uma maçã, me dividiria em pedaços iguais:

1/3 para meu trabalho 

1/3 para ser mãe 
1/3 para me apaixonar 
1/3 para conhecer o mundo
Outro pedaço para ler, outro para fazer nada, outro para aprender a desenhar, outro para dançar, outro para minha aula de canto, outro para comprar um vestido novo, outro para sair com os amigos, uma lista sem fim.

Sinto que não sobrou maçã e ainda tenho um bocado de aventuras a serem vividas.

Complicando ainda mais esta equação, há dias em que quero ser inteirinha uma maçã moleca, pronta para vadiar, em outros me dá uma vontade danada de reunir amigos. Há dias de querer estar só e divagar com meus mil pensamentos.

Em todos os dias sou uma alma fracionada. Deliciosamente imprevisível, atrapalhada com tantos afazeres e possibilidades, derrotada pela percepção de   viver imersa em uma ampulheta de areia, transgressora com apetite de virar à mesa e fazer tudo diferente. Feliz com algumas rotinas, como gato vira-lata que sempre volta ao aconchego do lar.


Saudades do café de minha vó.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

À margem do rio

Certa vez em viagem com amigos, daquelas que você guarda para sempre as imagens nos olhos da alma, conheci Rita. Uma paraense para lá de especial. Mulher madura, criava os filhos sozinha, após um casamento que não era para ser. 


Menina de sorriso largo que só quem já venceu muitos obstáculos nesta vida sabe que não vale a pena ficar triste por mais do que alguns instantes. O suficiente para lubrificar a visão e traçar nova rota de existência.


Estávamos todos reunidos na beirada de um deck em uma pequena praia no litoral de Paraty. Era noite e a conversa girava em torno de amores desfeitos, realizações da vida e, certamente, do encantamento de estarmos em um lugar tão mágico, com estrelas em nossas cabeças e o mar aos nossos pés. Além da nossa voz, apenas o burburinho gostoso do oceano.


“Na sua cidade tem rio?”, alguém me perguntou. “Sim, tem um rio que corta toda a cidade”. Passaram-se alguns instantes para Rita, acredito, tentar formar em sua cabeça a geografia de um rio cortando uma cidade. 


Após um breve silêncio, ela me disse: “Desculpe eu perguntar, mas o rio que você fala, de um lado você consegue enxergar a margem do outro lado? ” Sim, claro que sim ”, respondi. “Então, você não conhece um rio. Rio, na minha terra, é aquele que você pode levar até dias para alcançar a outra margem”.


Rita falou com conhecimento de causa. Não era uma empáfia, era a verdade. O parâmetro de rio para ela era a de uma água sem fim.


Foi a minha vez de ficar criando imagens de um rio sem margem. Deveria ser grande, deveria ser sublime, deveria ser sagrado.


Em instantes o rio da minha cidade ficou pequeno, bem pequeno. É um rio poluído, é claro. E pensei no dia em que chegarei a ouvir a pergunta: " Na sua cidade tem água?"


Todas as fotos publicadas na National Geografic de crianças africanas que levam uma vida sub-humana pela falta de água me vieram à cabeça, bem como me saltou à lembrança a trajetória dos personagens de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Baleia era o nome da cachorra da família de retirantes no sertão nordestino. Aos filhos, nem certidão, nem nomes, apenas filho mais velho e filho mais novo. Ironias de poeta para retratar um mundo de desesperança.




E depois de toda aquela secura, choveu em mim. Todas as chuvas de verão que eu havia saboreado em minha vida, todos os banhos de rio com margens, todos os mergulhos no mar.


Chorei toda aquela noite e decidi chorar por todo um ano para que nascessem na África e em terras brasileiras, começando bem no norte de Minas, rios caudalosos.



Faria, então, um imenso barco de papel jornal, estampado com notícias sobre políticas e corrupções, e navegaria com os filhos mais novos e os filhos mais velhos deste planeta azul, em busca de uma margem do outro lado, que nunca se alcançasse, visto a largura de nossas esperanças.


Este texto é minha contribuição para o Blog Action Day 2010 cujo tema deste ano é a água.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O pé de caju e a pós-modernidade

Ele surgiu assim como surgem as coisas boas em nossas vidas: sem avisar, sem expectativas.

E, de repente, um dia olhei o pequeno vaso aonde dias antes havíamos depositado a semente de caju e lá estava o pequeno pé brotado, um daqueles milagres que a ciência já revelou, mas que, pela singularidade e pela absoluta raridade da cena, me deixou sensibilizada.

Então eu tinha um pequeno cajueiro em minha casa. E agora? Aonde vamos plantá-lo? Como assim, plantá-lo?? Argüiu meu companheiro. E se a raiz dele atingir o muro? 


Moro em uma pequena casa, com um pequeno quintal, cujos limites dos fundos se faz por um muro de seis metros de altura por 12 de comprimento. 


Embora as medidas possam parecer, no mínimo, razoáveis, a topografia não é amigável para plantas, digamos, de grande porte.

Eis o meu dilema: em tempos modernos, quiçá pós-modernos, em que o desejo coletivo gira em torno de uma tal qualidade de vida, cultivo a graça de ter um pequeno cajueiro em minhas mãos e simplesmente não posso ficar como ele?

O cheiro do caju convive com minha infância, a fruta comprada na feira-livre todas as semanas e devidamente coada no pano branco. Talvez o único utensílio doméstico que minha mãe não me permitia brincar. “Este não, filha, este é o pano de coar o caju”. Era quase o Santo Sudário.  


O perfume da fruta ficava na trama com que eu furtivamente queria enfeitar minhas bonecas. Diante destas lembranças, como poderia eu consumir em uma gôndola de supermercado alguma dessas polpas congeladas?  

Decidida a encarar os fatos de ser eu uma mulher dos tempos modernos, há seis meses apanhei dois pacotinhos, um de goiaba, outro de manga, e joguei-os para dentro do carrinho certificando-me de que ninguém me olhava.  

Todavia, embora cometida a heresia da compra, não consegui consumar o ato e os dois pacotinhos continuam no meu congelador aguardando que eu aceite o inevitável: sou uma cidadã do mundo fast food, não é mais necessário esperar um pomar inteiro crescer para saborear uma simples fruta.




Mas eu posso! Eu posso ter o meu pomar! Eu já tenho até um pequeno pé de caju que nasceu como devem nascer os pés de caju, rompendo a semente em busca de luz.

Mas ele não cabe no meu quintal. Talvez o ato da doação seja o mais acertado neste caso. A quem darei, então?

A alguém que certamente não mais se lembrará de me presentear com uns pequenos cajus em sua primeira florada?

Alguém que talvez não saiba a medida certa da água e do amor que a ele devam ser dispensados?

A alguém que não sabe que o melhor suco de caju é coado no pano e tem cheiro de mãe?

Neste instante, meu companheiro chega perto de mim e diz: Está decidido. Que o muro caia, mas o caju fica!


Fico com uma gostosa sensação de que a humanidade está salva.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Toque a música

Há coisas na vida que deveriam ter a chancela da chamada "venda casada", mesmo que esta seja uma prática comercial proibida por lei em nosso país. Ou, melhor dizendo, coisas que são como Romeu e Julieta, unha e carne, Cosme e Damião.

Há tempos que vinha sentindo falta de algo neste blog, aquilo que seria a goiabada do queijo. E isto era a música.

A música para mim e o prazer da leitura são coisas que se complementam.

Então, aproveitando o feriado prolongado, segui os passos da minha amiga Isis do blog poderosa.com e, enfim, consegui produzir minha primeira rádio virtual.

Não sei se o som agrada, não sei se funciona bem na casa de todos os visitantes. Porém, ao que pese as possíveis falhas tecnológicas, esta é mais uma forma de expressão que encontrei em Absinto.

Então, espero que você curta a novidade.

Puxe uma cadeira por aí, pegue uma taça e bons delírios.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dia das Crianças - Do que realmente seu filho precisa?

Este vídeo foi publicado no blog da Carolina Duarte
Gostei tanto que trouxe para cá e complemento 
com um pequeno diálogo entre mãe e filho. 
Boa reflexão !


- Mamãe, você me compra um carrinho que muda de cor quando molha?

- Meu filho, você nem gosta de brincar de carrinhos.

- Então, me compra um dinossauro, aquele enooorme que anda e faz barulho?

- Aquele é muito caro, meu filho. Com o dinheiro que pedem por ele, dá para compra um tantão de outras coisas.

- Mamãe, eu não aguento mais de vontade de ir ao Mac Donald´s!!!

- Por que, meu filho?

- Porque toda hora aparece na TV e eu fico com uma vontade danada de ir lá ganhar um brinquedinho.

- Meu filho, você nem gosta da comida de lá! E os brinquedinhos acabam encostados em algum canto logo no dia seguinte.

- Mamãe, o que você vai me dar de Dia das Crianças?

- Vou brincar com você o dia todo do que você quiser.

- A gente pode brincar de fazendinha com chuchu, batatinhas e colocar pernas de fósforos?

- Pode, meu filho.

- Mamãe, eu te amo !

terça-feira, 5 de outubro de 2010

De perto ninguém é normal

Victor Molev - Jim Morison
Outro dia recebi de um amigo uma dessas mensagens em Power Point que mostrava a obra do artista russo Victor Molev.

Logo que vi me lembrei do brasileiro Vik Muniz, aquele que faz arte com lixo, sucata, diamantes e caldas de chocolate. No início deste ano visitei uma exposição de Vik no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba – MON

Vik Muniz elizabeth Taylor em Diamantes



Fiquei impressionada. Acho que a palavra que nos toca os lábios depois de vivenciar ambas as obras é esta.

Refletindo sobre o trabalho dos artistas, o que me toca a alma é pensar na releitura que é possível fazer quando nos distanciamos e nos aproximamos de situações.

Uma amiga comentou comigo a tristeza pelo fim de um relacionamento amoroso. Não há razões, certo ou errado, apenas pontos de vistas diferentes.


Uma vez me disseram: toda questão tem pelo menos 12 lados. Nossa! Como isso me soou familiar.

O maior legado deixado pelo meu pai foi me ensinar a viver com as diferenças. Isto não quer dizer que aprendi de todo a lição. Esta atitude necessita de uma dedicação diária.

É muito difícil abrir mão do nosso querer ao depararmos com o não-querer do outro. Como assim, não sou interessante o bastante para você? Ou ainda, o meu querer é menor do que o seu? Por que sou eu a ter que ceder? O tal consenso ou a concessão é um exercício que nem sempre queremos praticar. 

A questão é sempre a mesma – a expectativa que depositamos no outro de sermos ou não aprovados socialmente.

Quantas e quantas vezes nos sentimos magoados, pouco valorizados, injustiçados?

Iniciei em maio deste ano a leitura de um livro de Krishnamurti. Espero um dia terminá-la. O “anti-guru, anti-líder indiano, da casta dos Bramanês, nos fala de coisas como a mente torturada, a armadilha da responsabilidade, o aprender, o conhecer-se, a totalidade da vida, entre outras coisinhas bem profundas.

“Nós, entes humanos, somos os mesmos que éramos há milhões de anos – enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos, ansiosos e desesperados, com ocasionais lampejos de alegria e afeição. Somos uma estanha mistura de ódio, medo e ternura; somos a um tempo a violência  e a paz.” (Krishnamurti – Liberte-se do Passado)


Bom, o fato é que nas afinidades e desafinidades apostamos em relacionamentos – amorosos ou não –, nos aproximamos uns do outro, vivenciamos nossos momentos de êxtase e, no instante seguinte, começamos a ver sem os olhos de espelho 
e o mundo desmorona. 

De perto, ninguém é normal. E o que fazer quando descobrimos que o outro não se encaixa no script que criamos em nossa mente? 

Quando percebemos isso e pulamos fora primeiro, tudo bem. Mas, quando é o outro que nos rejeita, aí se abre uma ferida enorme. A Paixão é bela quando vivida a dois.

Quando o outro não dá sinais de investimentos na relação, então é hora de encarar os fatos, cumprir o luto, xingar, alugar os amigos para descobrir que este outro não era nem tão bom, nem tão ruim.

Afinal, a julgar pelas obras de Vik e de Molev, de perto ou de longe, não somos tão feios assim, apenas projetamos visões diferentes, dependendo do ângulo de quem nos olha.