"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A vida que pulsa

Hoje acordei com saudades da Biodança


Quando estamos certos de que tudo está perfeito vem àquela onda não sei de onde e vira o mundo. E de repente o que se torna urgente é sobreviver.
        
Ao me abrir para o universo, deixo adormecer as minhas defesas. Abraço causas, amores, projetos, para depois, indubitavelmente, cair em uma profunda exaustão de sentimentos.


Acabo por achar que doei mais do que podia, mais do que o outro/a causa merecia.


Volto para a caverna. Fecho-me em copas para repensar atitudes, chorar as perdas, lamentar as mágoas cultivadas por exigir do outro o mesmo desprendimento a que me propus. 


Até que tudo muda e me sinto forte para novamente amar.


É o ciclo da vida, é o nosso ciclo interior. Expandir, interagir, tocar o outro, ser tocado, tocar-se, dizer adeus e seguir sozinho com nossa própria experiência.


Do poder que sentimos quando nos envolvemos apaixonadamente por idéias e pessoas, resta-nos um imenso vazio. Em um instante vamos da sensação de poder infinito a mais profunda impotência.


O poder afoito é efêmero. Mas necessário. É do homem saber se perder e voltar ao eixo, para novamente se perder e se encontrar.


Entrego o meu empoderamento ao meu deus interior para que no meu silêncio possa recobrar minhas forças e novamente oferecer minha existência.

domingo, 27 de março de 2011

A compra, o descarte e o valor afetivo pelo fazer



Sapatinhos Escola Paineira - Foto Malu Machado
Continuando o tema da blogagem anterior que pode ser lida aqui, queria compartilhar com vocês uma experiência que estou tendo na escola onde meu filho estuda. É uma escola que segue a pedagogia Waldorf e desenvolve o conhecimento através da prática, o que nos impulsiona a vivências o tempo todo.


Por isso, não é incomum que os pais desses alunos se reúnam com freqüência nos fins de semana ou após às sete da noite para confeccionarem velas, tricotar, fazer uma bolsa ou simplesmente falar sobre educação.

E de repente eu me vi a aprender a costurar a mão um presépio em feltro com enchimento de lãs de carneiro. E há dois anos bordei o primeiro colete para Festa Junina do meu filho.


Trabalhos Manuais Escola Paineira
E enquanto costuro para ele, vejo a todo o momento como ele se orgulha deste ato. A relação dele com objeto confeccionado em todas as etapas dentro de casa tem um componente que não está à venda nas lojas de shopping. Tem afeto. Tem amor.


Eis que meu filho atende ao telefone e alguém do outro lado provavelmente pergunta: Onde está a sua mãe? E ele responde: está costurando o meu colete. Nossa, que felicidade no brilho de seu olhar. E como enquanto costuramos, ou fazemos um arco e flecha de bambu, ele acompanha atento, sereno, compreendendo, dentro da sua capacidade limitada à idade de sete anos, a importância daquele ato.




Neste fim de semana meu marido fez agulhas de tricô esculpidas de um bambu gigante. A atividade com o tricô é muito valorizada nas escolas Waldorf para desenvolver a coordenação motora fina, principalmente na alfabetização.


Duende em tricô presente professora Aline
Agulhas de bambu by Paulo e Malu
Eu tenho pelo menos três agulhas de tricô em casa. Uma de madeira e duas de plástico. Poderia ter ido a uma loja e comprado tamanho e cor desejados. Mas não é esse o exercício da prática. Estas agulhas serão eternas em nossas lembranças.


Com também serão eternos os bolos e biscoitos que fazemos juntos, as brincadeiras com argila e as pinturas em aquarela. 




Um fim de semana aqui em casa não tem televisão ligada. Por vezes cantarolamos ou ouvimos uma boa música. Ou optamos por ouvir apenas os pássaros no quintal e o miado de nossos gatos.


Enquanto escrevo, tenho no braço esquerdo uma pintura de um sol e um trevo de quatro folhas feitos pelo meu filho com lápis aquarela. A cada descoberta, percebo o quanto a vida pode ser simples, cheia de significados e tão pouco consumista.


Abaixo coloco uma excelente carta que recebi por e-mail da minha amiga Kátia Dias, do blog Simples, Sim! 


Foto Casa de Pau a Pique Escola Paineira /
alunos do 3º ano 2008 - Foto Malu Machado
Ilustro a carta com a foto de uma casinha de pau a pique confeccionado pelos alunos do 3º ano - Escola Paineira. Preciso falar mais sobre a diferença de visão de mundo?


Querida Arezzo,

Eu sempre fui uma boa cliente para você. Apesar das vendedoras
esnobes, dos preços absurdos e das campanhas publicitárias cafonas, eu sabia que valia a pena comprar os seus sapatinhos.

Ao longo de todos esses anos, foram pelo menos umas 20 sapatilhas, mais scarpins e sandálias e até uma rasteirinha – a única que eu tenho, imagine, logo eu que não uso rasteirinha! Tudo bem, eu sei que não é muito e que tem gente que compra bem mais que eu, mas eu sou uma jornalista pobrinha; se levar em consideração a despesa em relação ao salário, olha, eu fui muito legal com você.

Aí um dia, eu comprei aquele scarpin de “couro” (cof, cof) preto.
Salto alto. Plataforma. Eu fico com mais de 1,80m com ele, Arezzo! Tão bonito, tã confortável. Como (quase) tudo que você faz.
Justamente por ele me deixar tão alta, usei pouco; guardei essa
preciosidade de R$ 270,00 para ocasiões especiais – principalmente
quando elas envolviam também o uso do meu vestidinho lindo da Saad.

Comprei o pequenino há dois anos. Usei cinco vezes, e poderia citar
todas elas aqui. Durante todo esse tempo, ele ficou guardado no
saquinho dele, na caixinha dele. Como muitos outros sapatos lindos que eu tenho, sabe?

Mas tem uma diferença entre os meus sapatos lindos e o seu scarpin. Sabe qual? Eles não se desmancharam. Pois é, Arezzo. Você sai por aí vendendo sapatos que são supostamente de couro (afinal, por esse preço!) e, depois de serem usados cinco vezes, eles desmancham, revelando um tecido vagabundo pintado de tinta texturizada para imitar couro. O sapateiro riu de mim. Riu.

Eu achei que você fosse me explicar isso, que fosse passar a mão na minha cabeça, dizer que pedia desculpas e que isso não aconteceria mais, que foi um erro, mas o que você fez? Me esnobou. “Não nos responsabilizamos por sapatos comprados há mais de três meses.” Como assim, Arezzo? Eu tenho sapatos Topshop, Sommer, tenho até Melissas guardadas há mais tempo do que guardei esse scarpin, e sapatos usados muito mais vezes que esse scarpin e que não se desmancharam!

É por isso, Arezzo, que eu quero que você vá se danar.
Sabe o que eu fiz hoje? Eu comprei um scarpin seu. No Paraguai. Por R$40,00. Ok deve ter algum pequeno defeito, mas se é pra se desmanchar mesmo, né? Que seja a preço de pano pintado.
Se é como lixo que você vai me tratar, então é assim que vai
funcionar. E prepare-se, porque eu vou espalhar essa história e ainda contar para todas as pessoas que eu conheço que tem Arezzo no Paraguai a preço de Moleca. Aliás, nem a minha Moleca se desmanchou como a porcaria do seu scarpin.

Então, é isso. Passe bem com as suas vendedoras esnobes, suas
sapatrocidades cor de caneta marca-texto e seus sapatos de pano
mentirosos. A mim, você não engana mais.
Atenciosamente,

Fabiane  Ariello
Foz do Iguaçu, PR, Brazil
Jornalista, tradutora, revisora e escritora.

domingo, 20 de março de 2011

Obsolência Programada.Vamos remexer nossas gavetas mentais?


Não Existe um mundo Ecológico, mas um mundo de Negócios


Sábado pela manhã evito sair às ruas de minha cidade. A visão é de um formigueiro humano onde os empregados das lojas tentam nos empurrar todo o tipo de lixo da qual de fato não necessitamos.


Quando vejo tantas lojas de lingeries, não consigo evitar o pensamento: para que tanta calcinha no mundo ! E tantos enfeites de cabelo para as meninas, tantas marcas de batom, como se fosse possível uma matisse de cores tão diversa que não sobrecaia no mal gosto. E nem estou falando de esmaltes!


Os homens não ficam ilesos. São tantas marcas de lâminas para barbear, gravatas, novas máquinas maravilhosas para cortar a grama.


Poderia ficar aqui fazendo uma lista interminável de objetos inúteis que serão considerados obsoletos pelo consumidor em menos de seis meses. Isto inclui uma simples roupa a um automóvel recém lançado cujo o fabricante faz uma campanha de recall porque "alguma peça precisa ser trocada".


As pessoas, com raras exceções compram. Porque é esta a palavra de ordem, de status, de poder. 


Consumo, logo existo. E daí não é preciso muito esforço para entender porque realities shows fazem tanto sucesso e porque livrarias andam tão vazias.


O lixo que geramos é de uma irresponsabilidade sem procedências. Para onde vamos? Bom, além do excelente documentário exibido na TV espanhola, sugiro que assistam ao filme infantil WALL –E. Depois disso, acho que cada um pode tirar as suas próprias conclusões de para onde o planeta caminha e qual é a responsabilidade que nos cabe.


"Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro." José Saramago

quinta-feira, 17 de março de 2011

Desiderata


La Valse - Camille Clodell
alma alheia
Não se assemelha
À minha alma
Nem complementa
Mas é com gosto
Aconchegar-se neste corpo
Diferente,
Quente,
Até que o amanhã nos acorde do sonho
E desperte as almas
Distintas
Diversas
E para todo o sempre
Separadas.


domingo, 13 de março de 2011

O velho casarão da Rua Carlos de Vasconcelos


Foto: Júlio César Ferreira
Havia um encantamento, uma magia que envolvia as crianças do lugar em torno do velho casarão. Era um desejo, quase um pedido em oração, que ele guardasse mesmo fantasmas e almas de outro mundo.

Restos de velas encontrados constantemente na escadaria do portão enferrujado não deixavam dúvidas aos pequenos. Embora este fato não se configure como nenhuma prova irrefutável, fazia todo o sentido às crianças do bairro.



Os fantasmas, achávamos, eram seres deliciosamente perigosos. O gosto pela aventura, pelo proibido rendia a todos nós sonhos que preferíamos esquecer ao amanhecer e horas de conversas arquitetando planos para capturar as criaturas aladas.


Retiro as teias de aranha do meu pensamento e redescubro o prazer de aprender coisas novas. Em meu coração continuo guardando com carinho a vontade pelo não-saber.


Desafios são o alimento da vida. O medo e o desejo caminham juntos na infância e continuam a nos instigar por toda a vida como um poderoso elixir da juventude.


Por onde andarão as crianças e suas lembranças do velho casarão? Foram tantas em tantas gerações. Não sei se a velha casa, cansada de guerra, ainda abriga seus fantasmas ou se cedeu lugar a algum prédio frio e sem sonhos.


Por um instante imagino os fantasmas sem teto em um balé acrobático pelas ruas da Tijuca, procurando desesperadamente os olhos curiosos de suas eternas crianças.


E nós não estávamos mais lá.


Restarão para eles as nossas lembranças e as deles guardadas com carinho em dimensões distintas no tempo e no espaço.


Esta noite, sonharei com meus fantasmas queridos e farei a eles uma oração de até breve.

sábado, 12 de março de 2011

@ JAPAN


EM SOLIDARIEDADE AOS BRASILEIROS COM PARENTES E AMIGOS NO JAPÃO, CONVERSEI COM O ALEXANDRE DO BLOG LOST IN JAPAN SOBRE A CRIAÇÃO DESTE SELO. O SELO TEM LINK PARA O BLOG DELE. 

ALEXANDRE MORA NA PROVÍNCIA DE AICHI, REGIÃO CENTRAL DO PAÍS E ESTÁ MOBILIZANDO O SEU BLOG PARA REPASSAR INFORMAÇÕES E AJUDAR NO CONTATO COM AS PESSOAS QUE MORAM POR LÁ.

QUEM QUISER, PODE REPLICAR O SELO PARA ENTRAR NESTA CORRENTE PELA WEB.

terça-feira, 8 de março de 2011

Blue

Escrever me proporciona um profundo prazer. É nas palavras que consigo transmitir muito dos meus sentimentos. Sempre desejei ter o dom de escrever fora as obviedades do ser humano. Mas percebo minhas limitações. Mediocridade. Este é o sentimento que tenho em minha alma. Também me reconheço medíocre na dança e no canto, artes que gostaria muito de dominar mas que não passo da média.

Não tenho nenhum talento para pintura, embora no ano passado tenha iniciado alguns rabiscos em pincel.

Tenho que confessar que sou mediana. E, para não ser uma artista da mediocridade, me restaria o papel de mecenas. No entanto, as poucas moedas que recebo não me permitem financiar mais do que algumas poucas entradas em teatros alternativos e shows de cantores locais – atividade cada vez mais escassa diante da minha condição de mãe de filho pequeno. Neste quesito, espero não ser um arremedo e completar a minha obra.

Ando com o coração apertado. Sem caminhos certos (e quem os têm?).
Mas escrever me faz bem, então, por favor, aturem o meu desabafo. Ou passem batido para páginas mais alegres e felizes.

A tristeza é algo inerente a alma feminina. Vem em fases, como a Lua. Algumas vezes duram mais. No entanto, dizem muito do nosso íntimo e do quanto fomos feridas.

Sinto saudades de horas mais prósperas, dias esperançosos, sem chuva.
Onde dúzias de rosas vermelhas me surpreendiam no portão. Eram outros os carnavais.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Até Quarta-Feira



Colombina de Tenini

Meu primeiro baile de Carnaval foi um desastre. Sei pelas fotos e pelo que contam os parentes.
Vestiram-me uma roupa de baiana. O colar pinicava meu pescoço,
O calor me incomodava e eu chorava.
Depois curti por fantasia, já fui odalisca, espanhola, melindrosa, havaiana.
Corri mundo incorporando personagens.
Virei noites nos bailes. Tomei cerveja no bar de café da manhã.
Esperei padaria abrir para comer pão quentinho.
Vi desfiles na avenida, comi fora de hora, como convém aos foliões.


Depois veio a fase do mato.
Sem samba, sem fantasia, bloco das cachoeiras, do mar de Angra, longas caminhadas regadas a peixe e violão.


Hoje em Carnaval de chuva,
Não quero sair em bloco
Não vou desenrolar serpentina
Vou vestir um par de meias
Uma roupinha de malha
Tomar vinho em boas companhias 
Ficar tonta e ir dormir
Ouvindo sambas antigos
Brincar com meu menino
Fazer dengo com companheiro
E curtir dias de folga.


Uma coisa permanece neste Carnaval
O tempo fica imerso em uma dimensão diferente
Fugir às regras é a regra. 
Em clima de feriado, consultar o relógio é sacrilégio.


E você, leitor, qual fantasia já fez sua cabeça no Carnaval?


P.S. Não achei no youtube uma gravação com imagens decentes da música com Elis. Mas encontrei esta versão em francês. A música com a Nara Leão é linda, mas a interpretação de Elis passa uma emoção inegualável.

Noite dos Mascarados
Chico Buarque

- Quem é você?
- Adivinha se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
- Que eu quero morrer no seu bloco...
- Que eu quero me arder no seu fogo.
- Eu sou seresteiro, poeta e cantor.
- O meu tempo inteiro, só zombo do amor.
- Eu tenho um pandeiro.
- Só quero um violão!
- Eu nado em dinheiro.
- Não tenho um tostão... Fui porta-estandarte, não sei mais dançar...
- Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar.
- Eu sou tão menina...
- Meu tempo passou...
- Eu sou Colombina!
- Eu sou Pierrô!
Mas é Carnaval! Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr,
Deixa o dia raiar que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for, seja o que Deus quiser!
Seja você quem for, seja o que Deus quiser!