"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

domingo, 29 de agosto de 2010

Beleza Áurea

Foi Marcos Vitrúvio Polião, arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C. quem primeiro concebeu a idéia da Proporção Áurea.

Denotada pela letra grega φ (phi) e com o valor arredondado a três casas decimais de 1,618, este é chamado o número da perfeição, freqüente em pinturas renascentistas. Leonardo da Vinci representou a descoberta de Vitrúvio em seu famoso desenho intitulado Homem Vitrúvio.




A Proporção Áurea está envolvida com a natureza do crescimento. Phi pode ser encontrado na proporção das conchas, seres humanos (o tamanho das falanges, ossos dos dedos, por exemplo), até na relação dos machos e fêmeas de qualquer colméia do mundo, e em inúmeros outros exemplos que envolvem a ordem do crescimento. 

O fato de ser encontrado através de desenvolvimento matemático é que o torna fascinante.

Este pequeno vídeo de Cristóbal Vila acaba de chegar no meu e-mail acoplado a um outro que mostra a beleza de um parto humanizado usando uma técnica de relaxamento e contato com a criança através da emissão de sons pela mãe em toda a gestação e durante todo o trabalho de parto.

Cristóbal nos remete à beleza da perfeição matemática presente na natureza capaz de construir com bilhões de células que multiplicadas de maneira exponencial irão gerar uma espiral que dará forma a uma simples concha. A mesma Proporção Áurea está presente nas asas de uma libélula.

A beleza e o mistério da vida sempre irá fascinar a humanidade, no que diz respeito às pessoas que têm olhos para ver e sentidos para seguir se surpreendendo com os pequenos milagres que nos rodeiam.

O vídeo Nascimento Encantador, fala de uma matemática ainda mais improvável, de horas de espera em um mundo em que a agilidade dos fatos nos faz acreditar que qualquer espera é inútil 


(como se na natureza tudo não fosse uma espera constante até que novas vidas tomem forma, até que as estações cumpram o seu ciclo milenar). 

Nascimento Encantador fala do respeito à mulher por suas escolhas. Este acontecimento não é um modelo a seguir, mas uma química possível.

Depois de assistir aos dois vídeos, veio à minha mente um pequeno texto de Jorge Luís Borges que reproduzo abaixo.


ARGUMENTUM ORNITHOLONGICUM

Fecho os olhos e vejo uma banda de pássaros.
 A visão dura um segundo ou talvez menos; não sei quantos pássaros vi. Era definido ou indefinido o seu número? O problema intercala o da existência de Deus. Se Deus existe, o número é definido, porque Deus sabe quantos pássaros eu vi.

 Se Deus não existe, o número é indefinido, porque ninguém pode fazer a conta. Nesse caso, vi menos de dez pássaros (digamos) e mais de um, contudo não vi nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três ou dois pássaros.


Vi um número entre dez e um que não é nove, oito, sete, seis, cinco etc. Esse número inteiro é inconcebível; ergo, Deus existe.

sábado, 21 de agosto de 2010

Vermelho-carmim

 Marc Sagall - Les amants au ciel rouge
Hoje acordei com vontades de arco-íris. 

Vontade de arco-íris é quando queremos fazer muitas e muitas coisas ao mesmo tempo e não sabemos o que realizar primeiro e ficamos horas escolhendo o colorido do dia sem conseguir se definir por algum. 

Depois de dias de frio intenso, o sol faz-se presente e me enche de vontades.

Tempo de muito frio me remete à falta de amor.

Por isso, hoje acordei apaixonada. Lembrando dos amores de pipoca, do pedaço de pizza esquecido na geladeira, dos amores requintados regados a champagne, dos amores de pura água para consagrar o ato consumado.

Falo do amor paixão, aquele que muda a nossa rota,
Aquele pelo qual nos perdemos nas ruas da cidade com um sorriso bobo na face
Aquele que nos deixa completamente aéreo e que um dia faz suas malas e some em alguma nuvem que se esvai.

O amor paixão, aquele não previsto nas cartas de Tarô,
veste um tecido de puro algodão, gostoso de tocar
Cheira a alquimia da pele
Levanta a nossa saia – atrevido e, depois de toda loucura, queda em êxtase.

Ao amor paixão que aquece e irrequieta a vida, escolho a cor do sol carmim.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Absinto revelado

Vasken Brudian ", da Arte e Arquitetura: Um Discurso Contemporâneo"
Ando desvairada pela essência da vida. Amanheço com cobiça pelo experimento. Quase no topo da minha estrada cronológica, começo a envergar os ombros e questionar o tempo da descida. E, dentro do que é absolutamente presumível na existência humana, inicio uma entrega aos prazeres da arte. 

Descubro tintas, lãs, retomo às escritas não mais tão secretas. Como na primeira infância, absorvo tudo o que ouço e vejo, só que com ares de sabedoria. (Como somos tolos em acreditar que realmente sabemos alguma coisa neste imenso oceano de sentimentos).


Por puro instinto, sigo o que determina a biologia humana, aproveitando ao máximo as forças anímicas que ainda permitem meus traços de juventude. Cronos é impiedoso.

E um novo deus vem tomando meus devaneios, o deus das possibilidades, das tentativas sem culpas, sem expectativas. 


Já passou o tempo de provar ao mundo minha capacidade. O que fica, agora, é o gozo, a celebração da vida em toda sua plenitude.

Neste ritmo, vou me permitindo a ousadia de pisar em territórios antes inexplorados. O processo criativo tem muito de transpiração e pouco, muito pouco de inspiração. Mas é preciso estar atento para que algo se transforme em arte. 

As tintas, as letras, tecidos e agulhas. Tudo neste momento me permeia e tudo me interessa. 

Retiro do baú mil projetos abandonados e tento entrelaçá-los em uma ardilosa teia que conspira a favor do humano.

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre Josés e Marias


Maria estava agora com 36 anos e, dos anos vividos com José, não tiveram filhos. José e Maria queriam muito uma criança. Um dia, uma amiga lhe contou que outra Maria estava para ter um bebê e que iria dá-lo para adoção.

Maria também tinha 36 anos e este seria o seu sexto filho. A filha mais nova de Maria tinha agora 2 anos de idade. Maria, sem companheiro, fez uma escolha difícil.

Maria, a mãe adotiva, teve a graça de acompanhar o parto da mãe biológica. Era um menino. Um novo José que chegava a este mundo.

E foi neste momento que aconteceu um episódio raro nas histórias de adoção. A mãe do novo José teve seu menino de parto normal, acompanhada da mulher que iria receber sua criança, e, mesmo sabendo que ele seria adotado, o amamentou. Nas primeiras horas de vida de seu filho, ela o amamentou.

Maria, a mãe adotiva, não presenciou este momento, dedicado apenas à mãe que com toda certeza despediu-se de seu filho. Talvez não com palavras (quem sabe), talvez apenas com o olhar.

Dois dias antes de tomar conhecimento desta história, por pura obra do acaso, em meio a Semana Mundial de Aleitamento Materno, ouvi a palestra de uma amiga que, em certo momento falou da amamentação em crianças adotivas:

“Quem for adotar uma criança, nunca a receba em sua casa com uma grande festa. Receba-a com alegria, sim, mas considerando a sua dor. Ela acaba de perder a mãe que a gerou. Bom seria se essa mãe tivesse a oportunidade de se despedir antes de entregar este filho para adoção. Infelizmente, o que acontece é o contrário. Muitas preferem nem ver a criança para não se apegar. Bom seria se essa criança fosse amamentada por sua mãe biológica e soubesse, por meio das mensagens sensoriais, que ela o ama, e que o ato de concedê-lo em adoção é um ato de amor.”

Os josés e marias dessa narrativa, por puro instinto, tiveram a sabedoria desse gesto. Escrevo para, de algum modo, perpetuar esta história, para que outras pessoas, mesmo poucas, a conheçam. Escrevo como uma Maria que amamentou seu José.