Em um lugar indefinido - Estrada (caminho) do campo, com árvore, á noite (Route à la campagne, avec arbre. Soir) - dois amigos se encontram: Estragon e Vladimir. A primeira frase dita na peça, por Estragon, já indica a inutilidade da presença deles naquele lugar:"nada a fazer" (rien à faire)... Aparece um garoto anunciando que Godot não viria hoje, talvez amanhã. Pensam em se enforcar na árvore, mas desistem, ante a impossibilidade do ato ser simultâneo. O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:
Vladimir: Então, devemos partir? (Alors, on y va?) (Well, shall we go?)
Estragon: Sim, vamos. (allons-y.) (Yes, let's go.)
Eles não se movem. (Ils ne bougent pas.) (They do not move.)
Quando entro em períodos de entressafra, aqueles espaços na nossa vida em que só nos resta a paciência para o desenrolar dos acontecimentos, trago à minha mente a lembrança de Samuel Beckett e seu Teatro do Absurdo. A imagem do teatro de Beckett ainda hoje é em mim tão forte que chego a expressar com amigos, quando me perguntam como vou: Estou esperando Godot.
Godot, God, foram vários a fazer esta analogia do francês para o inglês. O fato que esperar Godot para mim não é uma coisa confortável. A espera me causa ansiedades. E náuseas. E ganas de explodir. No entanto, é preciso meditar. Então, escrevo.
Esperar Godot é um ato que foge ao controle, e, principalmente, Godot nunca vem do jeito que queremos (como se houvesse um jeito perfeito capaz de atender as angústias do ser humano).
Calejada por alguns anos de vida bem vividos, percebo claramente os dias em que Godot não virá. E, também, os dias que ele, enfim, chega, de uma maneira totalmente diferente da qual eu esperava.
E então busco em meus gurus a imagem da serenidade para finalmente agir e modificar, da maneira que posso, a minha realidade. Moldar Godot. É isso que eu gosto de fazer. Porque ficar parada, não está na minha essência.