"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Chato é ser bruxa


Recentemente fui convidada para escrever no site LUGAR DE MÃE É AQUI. O site tem uma proposta muito boa para falar sobre maternidade e vale ser adicionado nos favoritos. Transcrevo aqui a minha contribuição.
A mulher sábia, significado da palavra bruxa em sânscrito

E foram felizes para sempre. Contudo, como dizem, para sempre é muito tempo e, para quem já tem mais de 25 anos, já ficou óbvio que felicidade é um estado inconstante do espírito, um sentimento bem fragmentado que pode durar segundos, se ausentar por horas e retornar por poucos minutos várias vezes em um mesmo dia.

As crianças são assim. Do “eu te odeio” para a frase oposta é só uma questão de se interessarem por outra cena, outro brinquedo ou jogo. Mas não se iludam. Quantos sentimentos estão sendo elaborados em um sim e em um não que damos aos nossos pequenos. E como nos corrói a alma quando nos sentimos inseguros na hora de dizer estas palavrinhas.

Para o leitor, pode parecer bobo, mas só há pouco tempo descobri que as bruxas dos contos de fadas na verdade são mulheres idosas com suas vastas e mal cuidadas cabeleiras brancas e, em muitas histórias, detentoras de uma cobiçada sabedoria e conhecimento da vida. Mas é compreensível a minha ignorância. Afinal, eu nunca me identifiquei com a bruxa da história! Sempre me via na alma de princesa a espera do belo e valente príncipe.

Mas isto fica para outra vez. Nosso tema aqui são as crianças e as bruxas. E de repente me vejo interpretando perfeitamente a madrasta má da cinderela, a bruxa de João e Maria ou a de Rapunzel. Ser mãe é ser bruxa. No entanto, é preciso ter outra leitura do que seria bruxaria. Estamos forjando pequenos seres para um mundo melhor e nem sempre sabemos se estamos certos das nossas escolhas. Por isso Freud já dizia: “relaxa, mãe, de qualquer maneira você terá fracassado”.

Mas espera aí! Também não é porque a perfeição é impossível que não vamos nos esforçar ao máximo para oferecer o que há de melhor aos nossos meninos e meninas, não é mesmo? Mas o que seria oferecer o melhor? Roupas de marca? Passeios caros? Toda a rede de fast food com seus brinquedos descartáveis a qualquer hora do dia ou da noite? Trocar o jantar pela batata frita? Deixar que assistam livremente a qualquer programa na TV? Qual o limite entre a tolerância e a imposição de nossas vontades? Dizer ao filho que ele pode tudo é tão nocivo quanto dizer que ele não pode nada.

A melhor herança que podemos dar aos nossos filhos são raizes e asas


Citando mais uma vez os psicanalistas, 99% do problema dos filhos estão nos pais. A questão não é o problema em si, mas a maneira como o enfrentamos. E, como diriam os budistas, a serenidade da alma é que vai ditar a destreza de conduzirmos cada situação vivida. Quanto mais turbulenta a água, maior a probabilidade de fracasso. Opa! Olha ela aí de novo. Essa palavrinha que assombra a cada mãe e pai consumidos na desonra diante de uma presumível falha. Somos seres imersos na probabilidade da culpa. E, quanto mais nos debatemos neste rio, maior a nossa possibilidade de afogamento.

Então, respirar fundo e sustentar um não bem fundamentado e argumentado, pode render aos nossos príncipes herdeiros um reino alicerçado na confiança do que é certo, do que é ético e do que é ser responsável pelos seus atos. Apoiar os sonhos, sempre, mas com a responsabilidade de nossas escolhas.
Quem é mãe de meninos e meninas por volta dos 9, 10 anos de idade, escutam com frequência a argumentação: “Isso não é justo!” O que seria justo e injusto aos nossos pequenos?

Sigo invocando “las brujas”, as mulheres sábias, para que eu possa educar meu pequeno príncipe com justiça (quase sempre) salomônica. Vamos usando uma tintura ali, um cremezinho aqui, para ficarmos por mais tempo ainda belas, mas é preciso assumir o papel de que ser mãe (e ser pai) nem sempre será o de mocinhos e mocinhas adoráveis. Bom, ninguém disse que seria fácil. Mas não há como negar que é muito bom quando acertamos nesta sintonia. Afinal, quase sempre após um não bem colocado, nossos filhos se apresentam seguros pelo caminho que estamos construindo com eles.