"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O querer e o fazer


Hoje andei passeando por uns blogs queridos e percebi algumas semelhanças entre eles. Percebi a busca por um novo paradigma, romper com o mundo estabelecido no egoísmo e na falta de amor, respeito e tolerância. Percebi a vontade de mudar de rumo, de expulgar as dores próprias da vida, a vontade de quebrar tudo e se reconstruir.

Talvez este seja o propósito de muitos de nós que escrevemos. O principal leitor de um escritor é a tentativa de compreender a si mesmo a cada dia. O fato é que a maioria de nós sucumbiria se não colocasse no papel seus sentimentos, mesmo que sejam textos que nos desnudem e que ainda sim nos ocultam. E, então, na incapacidade de melhor expressão, explodimos nossas emoções em letras.

A medida que escrevo fico pensando se o ato de escrever não me escraviza no que sou. A catarse e a continuidade. A expressão e a volta à normalidade. O querer e o de fato fazer.

É um passo difícil de se tomar. A mudança. Não há certezas. Apenas o se lançar em outra vida, outra possibilidade de vida.

Em um tempo que não existe mais, os pequenos membros de uma tribo tupi-guarani faziam assim sua iniciação: deveriam ir à montanha mais alta e esperar a noite toda. Cada um na sua noite, sozinho, deveria vencer e dominar seu medo do desconhecido.

Enquanto enfrentava seu medo interior, cada menino ouvia um som que vinha das folhagens em meio a floresta: “ecoeté, ecoeté.” Eram os homens da tribo, escondidos, zelando para que tudo saísse bem.

Hoje vou escrever cem vezes ecoeté. Até sonhar com a palavra, até que eu me convença de que ancestrais zelam por minha escolha. Até fazer brilhar a escuridão.

Ouçam! Estão ouvindo? Ecoeté, ecoeté. Courage, courage. Coragem, coragem.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Vida fugidia




O fogo enebria
desafia, fia o contorno de silhuetas
O fogo embriaga, abriga e transporta a alma
O fogo me leva e eu sumo em meio à intensa luz
O calor acalma a vida
E por um instante, sou plena
Leveza do ser solta no universo
Sem preocupações.
Apenas sendo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Belezas ocultas

Um ano sem escrever neste blog e quem diria que num dia frio, propício à hibernação, é que justamente sairia da minha. Bom, escrever é um ato de alma, e por vezes simplesmente não querer escrever é um ato de se reconhecer ou de não querer se conhecer. Um voto de silêncio, imersa em outros pensamentos, em outras experiências. E eis que a vontade de compartilhar renasce, em uma primavera fora de cronos, em plena sensação de 2 graus negativos, muito para um país tropical como o nosso.
Na placenta deste planeta azulzinho andei descobrindo coisas interessantes. Como este chá chinês (tudo é chinês hoje em dia), o Flowering Teas.

No início da primavera, no sudeste da China, mulheres acordam antes do amanhecer para colherem pequenas flores, ainda tenras, cobertas de orvalho. Depois, são ressecadas e envoltas em folhas de chá verde ou de chá branco, também secas. Os bulbos são amarrados com uma fina linha de algodão. Essas trabalhadoras do campo nem sequer podem comer alimentos com cheiro forte, como cebola e alho, que possam alterar os aromas da planta, que absorve facilmente odores.

Curiosamente encontrei esta iguaria em uma casa de chocolates em Gramado, Rio Grande do Sul. Mais do que experimentar a novidade exótica, me desperta o encantamento, a delicadeza, a feminilidade e efemeridade de todo este processo.

O tecer, o cuidar, o maternar. Meses de espera, horas de trabalho delicado para segundos de beleza.

Quando tinha meus 16 anos, fui assistir a uma palestra de um professor em um encontro nacional de estudantes de Biologia. Ele estudava a biologia humana. Entre os seus slides (era isso que usava na época), o professor mostrou uma tribo indígena que levava meses plantando, colhendo, amassando e secando mandioca para seu consumo em uma espécie de pasta. Depois, mostrou um grupo de macacos-japoneses ou macacos da neve, que em um inverno rigoroso apenas lavam sua comida em água corrente e se alimentavam.

A pergunta que o professor deixava no ar aos futuros biólogos era: quem aproveitava melhor o seu tempo? Os macacos-japoneses nas fontes de água quente ou a tribo indígena com preparo alimentar mais elaborado?

Sai de lá sem uma resposta e hoje quando me deparo com delicadezas como as flowering teas fico a pensar que nos detalhes, no fazer, consiste a beleza humana. Viver vivendo. Há horas de apreciar e há horas de produzir. A medida de cada um é o segredo mais bem guardado. O quanto de tempero devemos colocar em nossas vidas? Ou quantas doses de absinto devemos nos permitir?

Hoje acordei com vontade elaborada. Preparei um chá e ouvi boa música. Deixo aqui para vocês um pouco dessa minha experiência. Espero que gostem.