"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Panela de barro


Saudade tem gosto um gosto especial quando se envelhece. Gosto de vida bem vivida.

Minha avó materna era uma mulher forte. Quando faleceu aos 98 anos ainda mantinha o hábito de cheirar rapé cuidadosamente guardado em uma caixinha de metal que deveria ter pelo menos metade de sua idade cronológica. 


Na cabeça ainda resistiam alguns fios de cabelos negros e no peito batia o segundo marca-passo. O último concedido gratuitamente pelo SUS no hospital Universitário de Uberlândia.


Minha avó era uma mulher de poucas palavras e muitos risos. Por vezes tomava uma aguardente para aquecer-se no inverno. E em sua casa sempre guardava uma panela de barro com boa comida caseira para as visitas inesperadas – que eram muitas.


Minha avó tinha a pele curtida de vida, dias de uma rabugice própria da idade. E um tempero irresistível.


Os anos avançam em meu espelho e por vezes penso se terei uma vida tão movimentada quanto a de minha avó, cercada de panelas bem temperadas sempre prontas para receber amigos e forasteiros.


Hoje quase não se visita, tem-se hora para chegar e hora para sair. Tudo bem civilizado. Tudo devidamente agendado. Sinto falta das visitas de assalto de minha infância.


Envelhecer não é uma coisa boa. Dá dores nas costas, azia no estômago, tira o viço do rosto. Envelhecer traz sabedoria e tristeza pelo tempo não vivido. Como pode o ser humano ser uma máquina tão fabulosa e demorar tanto tempo para amadurecer o espírito?


Não, não acho que vivi pouco, e sei que ainda me restam muitos anos de relativa juventude com os quais fiz pacto de vivê-los intensamente com o que me faz feliz, sem concessões. (Uma das coisas boas de envelhecer é saber dizer não sem culpa). 


Mas a minha felicidade é simples como a de minha avó. Quero receber os amigos, jogar conversa fora, olhar estrelas e dar sonoras gargalhadas. Enxugar as lágrimas de minhas amigas nas conversas secretas e deixar que enxuguem as minhas. Quero o ombro acolhedor de meu companheiro, dormir de mãos dadas e pés juntos. Coisa pouca, de muita valia.


Penso na alegria de minha avó materna. Sempre pronta para coar café e colher cebolinhas em seu quintal.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

99 não é 100

Contar uma história triste e colocar na tela emociona.
Quem lida com mídia ou é atento a ela sabe que toda boa história se faz baseada nos sentimentos universais: amor – raiva – tristeza-medo-alegria.


Qualquer texto ou imagem terá sucesso em despertar esses sentimentos se bem conduzidos, bem forjados, no pior sentido da palavra.


Passei anos de minha vida sem me emocionar com o cinema depois que fiz essa cadeira na faculdade de jornalismo. Entrava na tela grande (muito antes dos tempos dos VHS-DVDs e Blu-Ray) e só conseguia enxergar os movimentos de câmera. Eu não queria me emocionar, eu não queria me deixar emocionar, eu não queria ser manipulada. 


Vik Muniz me emociona. Como artista plástico. Porque não é qualquer pessoa que senta no chão e fazer obra de arte com resto de cabelo e poeira. Ou usando material mais nobre como os diamantes que dão forma a rosto de atrizes famosas.


Com sua arte, ele nos proporciona um novo olhar e um novo uso a materiais inusitados. Poderia você lamber um quadro de Vik feito com calda de chocolate?
O olhar de Vik nos convida a outras angulações que não figuram nos manuais de roteiros para cinema e TV.


E utilizando da técnica mais comum nos dias de Grande Irmão – o olho que tudo vê de George Orwell-, convida-nos a interagir com uma proposta ainda mais inovadora – a arte no lixão Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.


E é ai que Vik me emociona mais uma vez. Emociona porque sou humana, porque o filme mexe com amor-tristeza-raiva-medo-alegria. E porque em determinado momento ele coloca em xeque a própria ação de ajuda oferecida a essas pessoas: E depois da fama, o que restará?


Eu não poderia esperar de um filme de Vik menor plasticidade. E mesmo no pior submundo imaginado, há poesia. Há beleza. Há vida.


O sentimento toma conta e os atos (ou atores) falam por si. Suas vidas tão distantes da maioria do planeta nos remete a um mundo-lixo, com todas as analogias que estas palavras possam trazer aos meus parcos leitores.




Se Lixo Extraordinário ganhará um Oscar, pouco importa ( ou muito importa, quem sabe). Mas vale ser visto de coração aberto. Saboreando cada lágrima e cada sorriso.


E que as palavras de seu Valter ecoem em nossos ouvidos ao pensarmos nos rumos que estamos dando a Terra: "99 não é 100". E eu e você podemos fazer a diferença. Como fizeram e fazem Tião Santos, João Jardim, Lucy Walker, Karen Harley e Vik Muniz.


Parabéns a eles, pele conjunto da obra.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A lua girou, girou - Dia de São Valentim



Encantamento é a outra palavra para paixão

O fogo desnuda o véu para a obra

Acelera o fôlego, dá coragem

Não há maneira de reter as vontades

Vertentes são os caminhos do desejo

Que deságuam em mim e de mim

Corredeira sem medo, sem freios

Perfeição de atos

Despoja sabores

Colore a pele

Impregna sorriso

Tonto

Ligeiro

Mole

Brejeiro
E porque hoje  é Dia dos Namorados, Dia de amantes...




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Baloneando


The moon is my ballon
Hoje acontecimentos me deram vontade de simplesmente soprar, soprar até inflar bastante os meus pensamentos e sair por aí baloneando sem direção.


Para quem não sabe, balonear é o ato de ir tocando a vida ao sabor dos ventos.


Balonear é navegar sem rumo e, como dizia o poeta, é preciso. Mesmo que se fique à deriva.


A vida nos reserva dias de total necessidade de baloneamento.


É tempo de decisões e, embora esteja bem próxima ao olho do furacão, eu não controlo o futuro. (Quem poderia?)


Quem dera pudesse definir o destino de muitos. Gostaria de ter a força do herói, a fala pronta e certeira que desatasse os nós e acalmasse as almas. 


Ainda que eu falasse a língua dos anjos, tenho que aceitar a minha imobilidade. 


Pois é certo que há horas de luta, há horas de espera e há horas de entrega.


Deixando a mente vazia, sigo na esperança de encontrar as respostas corretas que abram a porta do paraíso.


Que tola eu sou, há pelo menos 12 lados de escolha e talvez nenhuma delas me sirva.


Então, vou acender um incenso, entoar um mantra e balonear em Deus, que é muito bom campear conselho junto às estrelas.



"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela,
nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."

José Saramago


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sutileza


Quando estou muito triste ou aborrecida, corro ao meu armário e procuro uma roupa vermelha. É a minha maneira de dar a volta por cima, mesmo que apenas na aparência. Não, não quero com isso esconder as minhas lástimas, mas reagir a elas.



Devo dizer que tenho muitas peças vermelhas em meu guarda-roupa.


Também tenho peças azuis, verdes, brancas. As mais neutras guardo para os dias de paz. E como é bom estar de bem comigo mesma a ponto de colocar aquele vestido de algodão, já meio puído, mas que me é tão confortável que chega a me elevar a alma. Dentro dele, posso não atiçar olhares, mas me sinto plenamente serena e segura.


Os vestidos vermelhos, eles são de guerra, reservados aos momentos em que é preciso impor presença, marcar, registrar, fazer-se ser notada, em qualquer circunstância.


Fico pensando nessa atitude inteiramente humana de reação aos estados emocionais de acordo com as cores e suas infinitas possibilidades de matizes.


Azuis para os dias calmos, verdes para os dias alegres, vermelhos para os dias de luta, lilás para os dias frágeis.


Nos dias de êxtase, apenas a cor da pele.