"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

sábado, 31 de julho de 2010

Loteria galáctica

Mapa do Tesouro por Kátia Horn

Você conhece o Rio de Janeiro? Ah, então você deve conhecer a simpática cidade de Varre-Sai. Não? Nem eu. 

Pelo menos não conhecia, até que, como acontece no melhor estilo dos filmes norte-americanos, a cidade saiu do seu quase anonimato para as páginas de jornais – Seção de curiosidades e ciência (o que dá mais ou menos na mesma, posto que não há ciência sem uma boa dose de curiosidade).

Distante da capital carioca há 400 km, não é difícil imaginar que os moradores de Varre-Sai façam suas compras com mais freqüência em Vitória, no Espírito Santo. No entanto, um acontecimento em meados de junho de 2010 provocou uma migração ao contrário na pacata cidadezinha, capaz de modificar a rotina dos pouco mais de oito mil varre-saienses.

O grande fato: a queda de um meteorito nos arredores do município. Há 19 anos isto não acontecia no país, dizem os especialistas. E o que isso tem de tão importante? Bom, é que a grama da pedra espacial pode chegar a valer R$ 52,00. Há quem diga que deva ter caído na região um pedaço de 20 kg, o que equivaleria a uma fortuna de R$ 1 milhão.

Uma verdadeira caça ao tesouro foi instalada. A notícia se espalhou e, “em menos de um mês, o livro de visitas da administração municipal registrou a passagem de pelo menos 600 pessoas de várias partes do País e até do exterior em busca da novidade histórica”, diz uma reportagem publicada no G1.

E eu que sempre fui fascinada com o espaço sideral, fico a imaginar que descobertas fantásticas o exame destes fragmentos podem trazer para a humanidade sobre a formação dos planetas, como relata a mesma reportagem. Mas também não posso deixar de pensar o quanto nós, seres humanos, ainda estamos necessitados da troca monetária.

Enquanto os cientistas sonham em poder estudar o precioso material que veio do céu, o comércio de Varre-Sai registrou um crescimento de cerca de 20% nos últimos meses.  Antes, a economia local girava em torno da produção de 70 mil sacas de café por ano.

O prefeito declarou que espera ver a cidade ganhar um museu espacial e um observatório astronômico e aguarda a negociação com um morador que encontrou uma pedra de 11 cm, para quem fez uma oferta de compra de até R$ 18 mil. A pedra ainda não foi vendida e aguarda negociação em um cofre municipal.

A loteria está aberta e todos podem tentar a sorte. Eu lá não vou, que não sou muito afeita a este tipos de jogos. Mas, confesso, passasse por lá, não resistiria a esta mágica aventura.

Em tempo – Varre-Sai é a cidade natal de Baden Powell. Realmente, jóias raras saem de lá.



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Hereditariedade


Kazuya Akimoto - Debussy Jardins sous la pluie Gardens in the Rain

No tacho onde fui forjada, misturam-se credos e hábitos de variáveis culturas. Até onde permite ir a minha árvore genealógica, sei que correm em minhas veias sangue francês e português. Mas, o que mais se destaca em minha genética são os traços herdados dos meus antepassados guaranis.


Os olhos ligeiramente puxados e os cabelos lisos, juntamente com o rosto arredondado (talvez esculpido por meus bisavós das terras lusitanas), já me renderam ser confundida com as hermanas bolivianas e paraguaias. O tom de pele denota minhas origens indígenas.


Contudo, o que mais me define como uma legítima descendente dos primeiros habitantes de Pindorama é o prazer pelo banho.


Dizem os especialistas que banho demais estraga a pele. 
Banho de menos degenera a alma.


Eu preciso da água como necessito do ar. Tenho por hábito desde a infância tomar banho quando chego de algum passeio. Dormir sem um banho? Só em casos extremos. 


A água que molha o meu corpo relaxa e me permite filosofar.  Pelo ralo do box liberto-me de  tristezas e angústias. Quedam as idéias renovadas e a perseverança. O banho oxigena.


A força dos jatos em minhas costas mexem com minhas moléculas. Fechando os olhos, quase me percebo em meio ao rio de Ceci, aos encontros de Ana Terra. Vertigem...

Dizem que água não tem cheiro. Para mim tem cheiro de perfumes que me remetem à Dona Beija. 
Ela, sim, sabia do poder do banho e usava-se dele para seus propósitos.


Talvez este prazer pelas águas venha de terras mais distantes, quem sabe Pompéia, um hábito guardado de outras encarnações? Será mesmo o rito de ancestrais que determina hoje minha rotina cotidiana?


O que sei, é que, em noites de lua cheia, tenho vontades de buscar a beira de um rio e esperar a hora de virar Iara.

sábado, 17 de julho de 2010

As cidades e seus lugares secretos

Os sites na internet estão repletos de dicas de onde devemos ir quando conhecemos uma nova cidade.  

O roteiro para as melhores compras, os mais saborosos restaurantes, tudo devidamente rastreado para cada tipo de gosto.

Isto garante uma boa estadia em qualquer lugar, não há dúvidas. Mas onde fica o espaço para o improviso?

Sabe aquele gosto de burlar a fila da excursão, fugir do grupo e descobrir sozinho aquele restaurante tailandês? Fazer uma caminhada e, de repente, deparar com aquela cachoeira que não consta no mapa da reserva?

A melhor parte da viagem é o desbravamento, é sentir-se como os antigos navegadores ou como um bandeirante saído dos livros de história.

A tequila sorvida de um bar mexicano enfronhado numa rua sem saída de um bairro inglês, o anúncio de Vende-se Cuscuz, pregado em uma casa solitária do subúrbio de Curitiba.

Cada cidade, por menor que seja, tem seu encantamento e, se estamos abertos a ela, ela te mostrará um labirinto de possibilidades.

Recantos ardilosos, singelos, sujos, sombrios, sofisticados, acolhedores, lugares onde podemos nos sentir em um centro cosmopolita ou perdidos no meio da poeira de uma cidadezinha esquecida pelo censo do IBGE e pelas antenas de telefonia. 

Não importa qual, esses lugares podem transformar nosso DNA humano.

Ando cansada de viagens programadas. Jogo minha moeda na fonte mais próxima na esperança de que caminhos inusitados me sobressaltem.

domingo, 11 de julho de 2010

A travessia do Rubicão

No ano 49 a.C. precisamente no mês de janeiro, Caio Júlio César tomou uma decisão que mudou para sempre os caminhos de Roma. Alea jacta est. O curso d´água marcava a divisa entre a província da Gália Cisalpina e o território da cidade de Roma (posteriormente, a província da Itália). Uma vez percorrido o Rubicão, Júlio César sabia que não teria volta. Foi uma declaração de guerra civil contra Pompéia, que detinha poder sobre Roma.

E a sua coragem lhe rendeu o que viria a ser o Império Romano

Atravessar o Rubicão é uma metáfora de se lançar ao desconhecido com vigor e sedento de novas conquistas. A passagem do Rubicão é usada para exemplificar as mudanças que acontecem com crianças aos nove anos de idade.

Por volta desta época, a criança começa a ver pai e mãe não mais como exemplos da perfeição idolatrada, mas seres imperfeitos, não tão bonitos, não tão absolutos.

E aí dá aquele medo do desconhecido, aquela vontade de voltar a dormir na cama dos pais e não ter que se preocupar com absolutamente nada, ao mesmo tempo em que somos tomados por uma curiosidade eterna que nos impulsiona a seguirmos o nosso curso. Alea jacta est.

Mas não é só no universo infantil que vencemos o Rubicão. Por quantas vezes em nossa existência realizamos essas travessias?

Mergulhar no improvável é uma essência da alma humana.
Existe uma fase da vida ainda mais instigante, quando nos permitimos mergulhar novamente em águas já conhecidas, contudo com um olhar totalmente inusitado.
 


E simplesmente você se dá conta de que ipês amarelos florescem no inverno, o que torna esta estação do ano mais afável. E que o céu é de um frio azul, mesclado com um carmim dissoluto em uma névoa distante. Nas estradas, a poeira e o intenso vermelho das queimadas.

E nesta minha sexta travessia, músicas esquecidas nas gavetas apuram seus tons e antigos poetas pedem para serem revisitados.

Com certeza já não mergulho neste rio tão afoita como a menina de outrora, porém, o olhar das (re)descobertas forjam em mim sentimentos mais profundos que me permitem alcançar a outra margem com uma singularidade silenciosa.
 

Eternidade


Enquanto criava letras, observava os pássaros
Enquanto lavava a louça, observava os pássaros
Enquanto buscava lenha, observava os pássaros
Lia, observando os pássaros
Chorava, brigava, sorria, amava.
Um dia virou pássaro e avôou.