"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Santa e os Minaretes



O ano era o de 1969 e o Museu de Arte Sacra, em Salvador, iria receber uma valiosa imagem de Santa Bárbara, conduzida com todo esmero em um saveiro que saíra de Santo Amaro da Purificação. O diretor do Museu foi pessoalmente ao cais do porto para recepcionar a Santa. No entanto, Oiá-Iansã tinha outros compromissos inadiáveis em sua estada na capital baiana.

Remexendo suas ancas, a Santa deu uma levantada em sua veste e saiu pelas ruas da Bahia à procura de sua protegida, a jovem Manuela.

Este é um pouco do que vem à minha memória do romance de Jorge Amado, O Sumiço da Santa (1988 - cem anos da Abolição da Escravatura no Brasil), e que fatos recentes me fizeram recordar.

O escritor que, ao longo de sua obra, soube descrever tão bem o sincretismo religioso presente na cultura brasileira, não está sozinho. No livro de Dias Gomes, Santa Bárbara também é a personagem principal do imbróglio entre Zé do Burro, a igreja católica e o candomblé.

O Pagador de Promessas foi parar nas telas de Cannes e Santa Bárbara (Anselmo Duarte), ganhou a Palma de Ouro – único filme brasileiro a receber o maior prêmio do cinema francês até os dias de hoje.

Um amigo me disse que o Brasil mantém, ainda, um título inusitado: seria o exclusivo país do mundo em que os mulçumanos acumulam as rezas a Meca durante o dia para fazê-las em um só horário. Não duvido.

Quem fizer uma visitinha à rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, não vai se espantar em ver um árabe legítimo tomando um chopp bem gelado, enquanto manuseia o seu misbaha e conversa alegremente com seu amigo Isaac.

O Brasil é mesmo uma benção! A literatura nos revela, no entanto, que sua fama de tolerância religiosa é bem frágil. Zé do Burro que o diga. E também tantas pessoas perseguidas por acreditarem em espíritos, por exemplo. Mas existe sim uma maleabilidade incomum. Uma mistura inusitada e cativante.

Há poucas semanas, a Suíça, país considerado como um dos santuários dos direitos humanos, entrou em conflito com a colônia islâmica ali existente, ao proibir a construção de minaretes em suas mesquitas.

As pequenas torres nos templos mulçumanos servem exatamente de local para adoração a Meca e estão presentes na arquitetura de diversos países europeus.

A decisão teve aprovação de 57% dos votos da população. O vaticano teme represárias violentas às igrejas católicas no Oriente Médio. A medida foi proposta pelo Partido do Povo (SVP), considerado de extrema direita, sob a alegação de que as torres simbolizavam uma “islamização” do país.

O Islã na Suíça é professado por cerca de 350.000 pessoas de acordo com o último censo realizado no país, sendo equivalente a 5% da população total (em 1990 eram 2,2% e em 2000 eram 4,3%), o que faz do Islã a terceira maior religião na Suíça.

O conflito carece de mais atenção por não ser esta a única medida autoritária que o governo suíço toma recentemente. Fico me perguntando se uma votação democrática tem o direito de decidir sobre como uma minoria deva ou não processar o seu credo.

Em que pesem todas as críticas pessoais que eu possa ter ao islamismo, práticas religiosas cristãs fundamentalistas e pentecostais entre outras, o lugar comum entre todas as ditaduras (muitas vezes trajadas por um ato democrático), é a intolerância às diferenças.

Penso como fez bem Santa Bárbara / Iansã, ao deixar seu confortável andouro para socorrer sua afilhada. Penso como fazem bem os ateus que respeitam a fé do outro, embora esta lhe pareça insana.

Penso em todo o capítulo de A a Z escrito por Saramago em Evangelho Segundo Jesus Cristo, dos que morreram em nome do Cristo, penso como são tolos os que adotam uma verdade única e não sabe o quanto elas (as verdades) gostam de mudar de forma nas múltiplas mentes que habitam o planeta.

Ai de mim que em nada creio, a não ser na força das águas, na beleza das flores e na inocência das crianças que dão novo colorido aos dias cinzentos e iguais de minha existência. Ai de mim que tenho como exercício diário o olhar e compreender o outro, deixando de lado, por vezes, as minhas vontades. Ai de mim que busco acordar e adorar o sol como se fosse o primeiro ou talvez o último. Não tenho religião, mas tenho a fé dos tolos que insistem na felicidade.

4 comentários:

  1. Amo seus textos.
    Indiquei seu blog pra uma amiga, a princípio como Poison e depois como Absinto....kkk
    Quando ela conseguiu te achar, também gostou.
    Olha, eu tô começando a duvidar da eficiência da democracia ou se estamos dando a ela o sentido correto.Basta ser maioria para ser democrático?
    Basta ser maioria também pra ser correto?
    Não seria de fato democrático um lugar onde TODOS tivessem seus direitos preservados e não simplesmente a maioria porque aí eu acho que é outra coisa.Acho que isso torna apenas a ditadura da maioria e não necessariamente democracia.

    Mudando de assunto....

    http://querocodigo.blogspot.com/

    Já tem um post explicando como colocar template pelo html.
    Esse outro blog está na mesma conta deste,ok?
    Beijos...

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  2. Interessante levantar essas questões, Malu. A liberdade religiosa continua sendo colocada em xeque no mundo.
    Veja o caso atual da Rússia no blog http://tony15007.wordpress.com/2009/12/08/publicacoes-das-testemunhas-de-jeova-banidas-na-russia

    Ademir

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  3. Oi Ademir, Realmente o mundo anda em círculos e vemos muitos avanços e retrocessos.

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  4. Meu seu blog é espetacular show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog
    Um grande abraço e tudo de bom
    http://maximumforma.blogspot.com/

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