"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

sábado, 24 de abril de 2010

Uma pitada, apenas


E dos tempos imperiais herdamos o hábito de sentar-se à mesa e simplesmente quedar até o entardecer.

Até hoje, famílias de cidades pequenas mantêm o hábito de deixar a mesa posta do café da manhã para o almoço, do almoço para o lanche da tarde, em um sucessivo requinte gastronômico em que é preciso alimentar a prole como se fossem lobos esfomeados.

Recusar? Uma ofensa digna de confessionário. Dez Aves Marias e 30 Pai Nossos, no mínimo!

Cozinhar é fazer amor por dentro. Ouvi esta frase de um amigo carioca, para quem todo o problema do arroz estava nos mineiros. O arroz, dizia ele, foi feito para acompanhar os pratos. Mas aí vieram os mineiro e inventaram o arroz com alho. Bom, não sei se a invenção é das terras de Guimarães, mas o fato é que mineiro come arroz até com macarronada. E gosta.

E para fazer amor por dentro é preciso lavar bem as mãos e a alma, estar sem pressa. Sabedoria dos ciganos.

Ouvir uma boa música, tomar uma boa taça de vinho e, se você tiver a sorte de ter um pequeno canteiro de ervas, terá o privilégio de colher cada folha poucas horas antes do preparo do prato principal.

Cozinhar é um estado de espírito. Não gosto do dia-a-dia, gosto do extraordinário, da surpresa. Um dia acordo com gosto de tomate na boca e remexo minhas panelas.

O feitiço vai tomando forma e, de repente, você descobre que alecrim vai muito bem com carnes vermelhas, que não existe nada mais instigante do que a sabedoria mediterrânea de misturar manjericão com massas e que gengibre e peixes são almas gêmeas.

No canteiro da minha casa são poucos os que já saborearam meus temperos. É magia contida, porque o que muito se dissemina, perde a graça.

Não. Não é nada disso. É que a feiticeira aqui só cozinha em ano bissexto, ou quase isso.

E, quem tiver a sorte, pode chegar no dia em que o cheiro da cepa seja para mim inspirador, a porta vai estar aberta e você vai poder entrar.

Não muito se admire se te colocar uma faca não mão e umas batatas. Afinal, dividir o fogão é sempre mais delicioso.

5 comentários:

  1. Oi, Malu. Como são 11 horas agora, o seu texto, delicioso, me abriu o apetite. Daqui a pouco vou preparar a minha comidinha. Um abraço, Wilson Bueno

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  2. Malu, passaram-se alguns dias, mas é com seu cardápio de palavras e de sabedoria que continuo perseguindo a alimentação de cada dia ...bonapetite!!!!

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  3. Quisera eu, Malu, ter a sabedoria dos alquimistas para misturar minha alma aos sabores e aos sentidos na hora de por a mesa, de acender o fogo, de escolher os temperos... Cozinhar é uma arte... E vem mesmo lá do fundinho da gente a motivação para preparar um alimento que satisfaça não apenas o corpo, mas o espírito inquieto, que anseia sempre por um pouquinho mais...

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  4. Kátia, e como nosso espírito é inquieto, não é amiga?

    Obrigada pela mensagem.
    Beijo grande.

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