"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Os gatos de Cinque Terre


Gato de Cinque Foto: Malu Machado
Para quem não sabe o animal símbolo da Itália é o gato. Na região montanhosa de Cinque Terre, na costa da Riviera Ligure, encontrei com gatos enormes. O que mais me chamou a atenção foi que eles circulavam em plena luz do dia em meio a centenas de turistas. Os bancos das praças são deles. Um desses felinos, consegui fotografar. Os cães, também enormes, transitavam por ali sem que eu presenciasse nenhum conflito de território.

Isso me fez pensar que a tão sonhada qualidade de vida chegou por aquelas bandas. Cinque Terre também
passou suas crises e também deve tê-las. Mas por hoje, os gatos são gordos. Sinal de abundância nas famílias. Nunca me esqueci de quando li Vidas Secas de Graciliano Ramos, o choque que senti ao descobrir a personagem Baleia. Baleia, a cachorrinha da família, acompanha parte da jornada dos retirantes pela seca do nordeste brasileiro. O homem e a mulher batizaram a Baleia. Os filhos, esses não precisavam de nomes.

Cinque Terre Foto: Malu Machado
Quando um povo fica faminto, existem vários sinais que refletem essa fome. E um povo pode ficar faminto de muitas formas. De ideias, de sonhos. O ser humano pode ter fome até de conflito. Conflito aguça, espanta a preguiça e esquenta os desejos. Esse tipo de fome é bom ter.

Os argentinos estão em uma fase de fome voraz no cinema, com uma safra de arrepiar. Sob a direção de Gustavo Taretto, o filme Medianeras estreou no Brasil em 2011 e levou o prêmio de melhor filme estrangeiro em Gramado.

Entre outras sacadas geniais, o enredo fala deste “não lugar” onde nos encontramos quando estamos em crise. Aqui em nosso país chamamos as medianeras de empenas secas ou laterais sem janelas de um prédio. Aquele lugar onde ninguém olha e que por isso mesmo não precisa ser cuidado, pintado, reformado. Até que um dia a pintura descasca na frente, por dentro e não há mais como esconder, como se esconder.

A Europa em crise, o mundo em crise, eu e você no divã. Todos querendo se encontrar, querendo um lugar. Desejo de ser gato bem resolvido, curtindo o rei sol. Lambidas aos montes no nosso ego. Olhar de quem sabe o que quer, andar de quem vai conquistar o mundo. Sigo sonhando.

Gato de Cinque Foto: Malu Machado

10 comentários:

  1. Excelente texto minha querida, é verdade sim, quando dizes que se pode ficar faminto de varias coisas.
    Também aqui vamos sentir e ver muita gente faminta, infelizmente.
    Eu tenho 4 gatas e 1 gato.

    beijinho e uma flor

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  2. Amei!!!Estava faminta de mais um texto seu! bjinhos!!!

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  3. Maravilhoso este texto.
    Acho os gatos lindos,mas acreditas que tenho medo deles?
    Beijinhos Malu

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  4. Adorei o texto, o blog e Medianeiras (Que filme!). Sua analogia entre fome e criação foi perfeita, muito bom conhecer outros olhares...
    Prazer em conhecer o seu Absinto, Malu. Beijão

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  5. Excelente crónica, conciliando da melhor forma o observar com o sentir.

    Beijo :)

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  6. Que metáfora bem urdida essa da fome! Texto fluido, bem escrito... gostei!
    Abraço!

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  7. Olá!
    Parabéns pelo texto!
    Minha mãe tem 30 gatos na casa dela, acredita?
    Tenha uma ótima tarde!

    http://femmedigital.blogspot.com.br/

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  8. Tem graça que não me lembro de gatos em Cinque Terre. Mas diga-se de passagem que também estava tão em delírio com as vistas que não devo ter conseguido assimilar todos os pormenores :)

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    1. Sue, pois eu fiquei fascinada de vê-los andando tão confiantes à luz do dia. Acho que vc acaba de arrumar um bom motivo para voltar por lá. Aproveita!

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  9. Me deu vontade de viajar, o texto é um covite a coias boas vida

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