Enquanto acreditar em teses, minha vida se esvai. Essa foi a
última frase que ouvi de minha prima, antes de sua morte. Ela não queria esse
mundo. E esse sentimento é tão profundo que quantos de nós não os sentimos
todos os dias?
Eu não quero corrupção, mas dou o meu jeitinho. Acredito em
parto humanizado, mas me conformo com uma cesariana eletiva. Acho que a mochila
do meu filho anda pesada e que é um massacre a cobrança de estudar para um
vestibular sobre uma criança de 7 anos, mas matriculo meu filho na escola mais competitiva
da cidade. Eu amo dançar, mas não acho tempo. Adoro meus amigos, mas não tenho
assunto com eles que não seja do meu interesse. Não sei escutar e quero ser
ouvida. Não abraço e quero abraços. Não concordo com o trabalho que faço todos
os dias, mas me arrumo e vou. Todos os dias. A vida se esvai por entre meus
dedos. Não percebo. A vida se foi. Hoje estou velha e cansada. As pernas
atrofiadas, o coração duro, o sorriso fugiu para algum lugar da inocência
perdida.
Foi-se. E a fruteira da sala está vazia.
Não carrego memórias felizes, apenas momentos de ausência.
Minha vida foi uma enorme ausência de mim mesma. Sem coragem para as coisas que
verdadeiramente acredito.
Não me impus, não me encontrei, não me realizei. Agora sou
sombra sem afago.
Hoje um véu se desvendou. Antes de enterrar
minha prima, desenterro minha alma e volto ao jardim do mundo. Vou buscar o encanto.
Hoje, amanheci mais leve.
Viver é preciso, portanto temos a necessidade de analisar cada fato de nossas vidas e tentarmos olhando o lado bom. nele perseverarmos.
ResponderExcluirBeijos.
Obrigada Élys. Talvez este seja o grande segredo da vida.
ExcluirQue lindo, tocante, desafiador... comecei a me encontrar agora, com a maternidade, agora consigo olhar e ver tanta coisa que deixei escorrer entre os dedos, tantas coisas feitas contra minha vontade, por não me impor.
ResponderExcluirObrigada pelo texto, pelo toque, pelo dedo na ferida!
Obrigada você pelo retorno. Sempre é bom quando deixam recados. Da próxima vez deixa seu nome, tá? rs Abraços.
Excluiruai.. achei que tivesse deixado...rsrsrs meu nome é Rana!!!
ExcluirObrigada Rana !!
ExcluirBelo texto, Malu! Como sempre muito bem escrito e deixando a sensibilidade aflorar a cada palavra! Bjos.
ResponderExcluirObrigada Eliana ! Sempre muito bom esse retorno. :-)
ExcluirMalu, como sempre muito bom o seu texto! Exato e belo!
ResponderExcluirMalu, apesar da dor, hoje você se superou. Que beleza de texto, arrepiou!
ResponderExcluirum grande abraço carioca
Nossa! Dos seus textos que li, o melhor deles! Ótimo, verdadeiro, sincero. A minha cara, sem sombra de dúvidas. Não aprecio realidades deturpadas, enganadoras.
ResponderExcluirBeijos, e, obrigada por me convidar a lê-lo!
Suzana Guimarães, a Lily.
Uê, o meu comentário sumiu!
ResponderExcluirEstá aqui em cima Suzana !
ExcluirVocê conhece o conto da Ceiuci?
ResponderExcluirBeijos
Conheço duas historias sobre a Ceiuci. A que ela vira a constelação plêiade e uma em que ela persegue um rapaz com sua fome insaciável.a qual vc se refere?
ExcluirMalu(estranho chamar por um apelido que pressupõe proximidade, alguém a quem não conheço pessoalmente)
ResponderExcluirPois bem, hoje li uma poesia de um jovem escritor português em que ele questionava se a liberdade que supomos ter não seria uma mera ilusão, prisioneiros que somos das regras sociais.
Parto deste ponto para questionar o que supõe uma ausência de si.
Somos parte de uma engrenagem massacrante. Simplesmente não conseguimos nadar contra a corrente, mesmo quando temos opiniões próprias ou nos posicionamos contrários ao modus operandi vigente.
Não se cobre pelo que deixou por fazer. Aproveite a viagem.
Parabéns pelo texto.
Obrigada Marcia. Se ler esta mensagem, gostaria de ler o texto do jovem escritor japonês. Realmente a essência desse texto parte do questionamento da engrenagem. Até que ponto podemos nadar contra a correnteza? Não sei. Até que ponto podemos nos culpar? Realmente, nem tudo está totalmente ao nosso controle e nem tudo pode ser desprezado. Obrigada pela mensagem. Quanto a viagem? Enquanto a faço, escrevo. Volte sempre !
ExcluirNunca é tarde para iremos buscar o encanto Malu querida!
ResponderExcluirNão podemos alterar o passado, mas podemos aprender a conviver com ele e, a não voltar a fazer as coisas menos certas, mas o que é certo, ou errado,quando nosso coração não é por nós comandado.
A vida é um enorme segredo da própria vida.
Adorei ler-te querida, lamento o falecimento da tua prima.
beijinho e uma flor
Realmente Adélia, nunca é tarde.
ExcluirMalu, muito lindo o seu texto. É muito bom ser brindado com palavras que tocam e ajudam a refletir.
ResponderExcluirDigo-lhe que a vantagem de que recomeça é que não sai do zero. Há uma bagagem de vida, de sentimento e de saber o que não quer. Como diz a Márcia Montalvão "aproveite a viagem". Olhe as coisas passadas com o coração pois ele mostrará a parte boa do que passou e energizará o que está por vir.
Bjs
Obrigada pelas palavras sinceras. Energizar é preciso !
ExcluirContradições em nossos corações humanos
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